12 December 2005

Interdependência

Enquanto eu não escrevo e nem arrumo uns artigos decentes e bem escritos para o blog, vou linkando o de outras pessoas. Um site que vale a pena vasculhar é o do americando Douglas Rushkoff. Ainda estou conhecendo o trabalho do cara, mas só por meia dúzia de textos que li, dá pra dizer que vale a pena. Ele é um desses caras que tem às pencas nos EUA, um "ensaísta". Fica lá, tendo idéias e publicando-as, aparecendo em conferências, dando aula e tal.
Mas, enfim, o Rushkoff é um cara que faz cortes e conexões interessantes, abordando desde a cultura do ecstasy até poluição midiática, persuasão em publicidade, consumo jovem, essas coisas. É como se o Beck resolvesse estudar teoria da comunicação em vez de fazer discos.
(Esses dias estava passando um documentário no GNT em que ele apareceu como apresentador e co-roteirista. Mais adiante falo do documentário.)
De cara, recomendo a leitura do artigo What's Next. Aqui ele começa explorando a necessidade do mercado (que não deixa de ser reflexo da necessidade das pessoas) de uma "next big thing", uma nova onda, um novo lance, uma grande virada. Esse processo engatou uma quinta marcha nos últimos dez anos e estamos num ritmo alucinado de "novidades" e "lançamentos".
Ele não cita especificamente isso, mas acho que o exemplo mais visível e popular hoje seria os lançamentos de celulares. Em poucos meses o aparelho que era pequeno, moderno e útil se torna grande, ultrapassado e ineficiente perto dos outros. Embora uma parte das pessoas não se importe com os novos modelos lançados, é cada vez maior o número de consumidores que adere à chamada obsolecência programada. Longe de ser apenas um artifício industrial "promovido pelo grande demônio capitalismo", vejo isso muito como uma expressão em maior escala do próprio hábito humano de buscar a novidade, de se entediar com o que conquista e logo querer um pouquinho mais.
Mas na real o tópico do texto do Rushkoff é outro, um conceito muito interessante chamado Social Currency - a Moeda Social. O exemplo que ele dá é perfeito: as figurinhas que vem com chicletes. Aquilo é pura Moeda Social, um produto que em si tem um valor muito baixo (péssima resolução nas imagens, material de baixa qualidade, durabilidade duvidosa), mas que ganha importância à medida em que é usado para interação social entre os garotos. Ou seja, o que interessa não são as figurinhas em si, mas a diversão de ver quem tem e quem não tem, trocar as repetidas, quem já achou aquela mais valiosa, enfim.
De posse do seu bolinho de figurinhas, do seu bolinho de Moeda Social, você faz parte de uma comunidade e o lance do ser humano é achar seu lugar numa comunidade, não é?
O fator Moeda Social é um dos grandes motivos pelos quais os virais funcionam na internet, desde o incrível vídeo do Ronaldinho botando a bola várias vezes no travessão quanto aqueles "Power Points Edificantes" com fotos de Image Bank e mensagens batidas: embora o conteúdo em si seja o impulsionador, o grande prazer aqui é compartilhar o que você está vendo. Tipo "nossa, o Ronaldinho fez isso, não acredito, outras pessoas precisam ver isso". O conteúdo - e isso o Rushkoff advoga diretamente - é apenas um veículo para essa necessidade de interação social que existe no coração até do mais misantropo.
Eu sei que isso soa óbvio, mas a maneira como o conteúdo é tratado hoje não demonstra essa consciência. Essa interação social é citada geralmente em segundo plano, numericamente, nunca em termos qualitativos, em termos humanos. Cada vez mais se cria conteúdo (comercial ou não) pensando na sua multiplicação e menos nos motivos reais e mais profundos de cada pessoa.
Ok, e qual a saída? O Rushkoff aponta algumas. Eu tenho lá minhas idéias, aos poucos vou comentando aqui alguma coisa.