Mídia Externa
Há pouco tempo, eu fazia um rápido balanço com duas clientes sobre o material gráfico que havíamos produzido. Estávamos comemorando os bons resultados do design, de como ele estava facilitando a compreensão das informações, de como ele passava a essência da marca em questão e me lembrei de comentar com elas algo assim: 'vocês não estão só ajudando a marca de vocês, mas também estão colaborando para organizar um pouco o espaço visual do dia das pessoas'.
Pouca gente reclama verbalmente, mas um dos maiores problemas que vivemos é o excesso de publicidade FORA das revistas, jornais e computadores: os outdoors, as placas, os front-lights, os cartazes, etc e tal. As cidades e as estradas estão tomadas por trambolhos em tudo quanto é lugar e, como se não bastasse, a cada ano aparecem novas invenções: moto-door, bici-door, caminhões que carregam mensagens e por aí vai. Recentemente chegamos a aventar na agência a possibilidade de usar para um cliente uma máquina que fazia logotipos na areia da praia. Felizmente não rolou, pois logo depois cheguei à conclusão de que já é um pouco demais aquilo ali. Também recentemente a prefeitura vetou algumas idéias mais ousadas aqui da agência e o pessoal chiou. Mas cá com meus botões pensei se não era uma boa coisa a prefeitura ter vetado mais um pouco de poluição visual - ainda que bem layoutada.
Antes que pensem que eu costumo conspirar contra meus próprios trabalhos, vejam essa.
Em uma entrevista para a Trip, o diretor de criação da Almap/BBDO e um dos melhores diretores de arte de todos os tempos do Brasil, Marcelo Serpa, disse que uma das coisas que mais incomodava ele a respeito do excesso de publicidade eram aqueles patrocínios de estacionamento de shopping. Um dos clientes dele patrocina um estacionamento de shopping aqui em Porto Alegre.
Se nós publicitários, que não gostamos, não conseguimos meter a mão nisso, você deve imaginar a complexidade do problema.
Acontece que essa não é uma questão de responsabilidade exclusiva das agências e dos clientes. Diz respeito à prefeitura, à licença e fiscalização de espaços públicos, ao recolhimento de impostos, à aceitação do consumidor que curte algumas sandices e de cidadãos que cedem muros, terrenos e paredes de prédios.
Outro grande problema é a falta de profissionalismo. Pelo menos 95% da publicidade em mídia externa é feia, mal pensada e mal executada. Idéias pobres, informações em excesso em placas pequenas que só poluem a visão e não informam, escolhas de design impensadas. Outra lebre que é fácil levantar e difícil de resolver. Depende não da vontade de uma ou duas pessoas, de um canetaço aqui e ali, mas de toda uma nova cultura a ser construída lentamente.
O Brasil é um país jovem e de cultura visual caótica. Talvez confiemos demais na beleza natural das nossas paisagens, mas a questão é que há pouca tradição de cuidado visual com o mundo que nos cerca. Mesmo a popularização do design não vai resolver isso de uma hora pra outra. Na Europa, por exemplo, até mesmo as plaquinhas de rua muitas vezes contribuem para uma certa harmonia paisagística (lembro do designer alemão Erik Spiekerman apresentando aqui no instituto Goethe sua proposta para a sinalização de Berlim). Mas lá eles com séculos de história da arte das costas.
Uma coisa que era pra ser sujeira mas no fim ajuda mais do que muita mídia externa é a arte de rua. É tendência mundial, já até mesmo absorvida pela publicidade, mas há um bom tempinho Porto Alegre vem sendo coberta com criatividade e colorido em vários pontos, tanto de maneira livre quanto de maneira organizada. No segundo grupo, dá pra destacar o trabalho do instituto Trocando Idéia, que descolou uma penca de bons grafiteiros (Gêmeos, Nina, Trampo, Ise) pra pintar os trens do Trensurba e também uma dúzia de cabines telefônicas.
Mas e daí, onde é que eu quero chegar?
Não sei, vamos ver pra onde as coisas vão. Aqui do meu lado, prometo lutar pelo fim dos ônibus envelopados, aqueles ônibus adesivados com temas de campanha, e outras coisas do tipo. A máquina que faz logos na areia também.