17 February 2006

Sigo lendo o Rebelandose Vende

Não satisfeitos em achincalhar a Naomi Klein, eles também tiram a maior onda do Baudrillard e sua crítica do consumo de massa.

Fora o sarcasmo, há raciocínios muito interessante. Um dos que mais me pegou foi o fato de que a maior parte da crítica ao consumismo sempre julga unilateralmente o que seriam as necessidades artificiais impostas pelo mercado. Por exemplo, é comum encontrar em críticas ao consumismo o hábito de uma pessoa querer ter o carro do ano, mas dificilmente é considerado consumismo o fato de um intelectual estar sempre por dentro das tendências intelectuais do momento.

Na "cena" religiosa isso também é muito comum e há um livro maravilhoso sobre o assunto chamado "Além do Materialismo Espiritual".

Ou seja, um dos maiores furos das críticas de contracultura vem do fato delas serem extremamente preconceituosas & cegas quanto ao comportamento de consumo do seu próprio feudo. Afinal, qual a diferença de um executivo que coleciona charutos e um meditador que fica colecionando estátuas do buda ou de um ambientalista que vive dentro de lojinhas de orgânicos o tempo todo?

Aí vem todo aquel papo de que os orgânicos ou as estátuas do Buda levam a consciência do cara a um patamar mais elevado, mas aí entra os ensinamentos de "Além do Materialismo Espiritual": tanto faz o objeto, o q conta é a mentalidade e é preciso ter um nível de discernimento absurdamente afiado para realmente não cair em contradição. Um nível que eu nunca vi por aí.

O grande problema do consumismo não é a existência das tais "necessidades artificiais" (que, um dia discorro sobre isso, não são criadas pela publicidade somente). O grande problema é que consumimos para estabelecer nossa identidade, para manter nosso "eu" distinto, sólido & vivo. Somos o que fazemos e muito do que fazemos hoje em dia envolve consumo em alguma escala. A necessidade de distinção faz com que montemos complexos esquemas com nossos gostos e nossa personalidade.

Mas o grande problema é que a época absurdamente fluída que vivemos exige que esses esquemas complexos sejam montados & desmontados ou então ornamentados com igual fluidez e rapidez. E se tem algo que mina a felicidade de um ser humano, não importa o que digam para tentar nos ajudar, é essa fluidez.

Porque a fluidez pode significar duas coisas.

Por um lado, insegurança. A destruição de uma situação boa e estável que estava trazendo prazer, felicidade, estabilidade.

Por outro lado, a fluidez traz uma falsa sensação de liberdade. Porque se as coisas estão numa época ou num patamar ruim, aquilo não dura daquele jeito. A situação toda, uma hora ou outra, se desfaz, flui, e temos a falsa idéia de que agora tudo vai dar certo, entramos em uma nova época, em uma nova configuração. Porém das duas uma: aquela configuração vai se manter e se tornar tediosa ou vai se desfazer antes do que gostaríamos e trazer novamente insegurança.

Algo assim.