22 June 2006

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança



Eu geralmente não tenho muita paciência com livros que eu começo a remar no meio, seja por culpa do livro em si ou por culpa do momento de vida corrido que se apresenta. Mas dessa vez foi diferente. É que esse Nó na Garganta não é lá um livro muito fácil. Não me entendam mal, ele é ABSURDAMENTE bem escrito e até flui. Mas é que o mundo que a gente entra não é nada fácil...

O lance é o seguinte: o storyline é mais ou menos um guri pobre de uma cidadezinha da irlanda que começa a... ter problemas. O pai bebe, a mãe começa a pirar nas condições adversas da família, eles são pobres e outras famílias da cidade meio que desprezam, o tio tido como bem sucedido é meio falcatrua... ou seja, uma história familiar absolutamente normal e dentro dos parâmetros.

Agora... o JEITO como a gente é apresentado a isso é poderoso. A gente vai acompanhando tudo de DENTRO da mente do garoto. O relato do livro é a mente do garoto, que aos poucos vai degringolando com a desestruturação da sua realidade. Então captamos a história "real" aqui e ali, solta entre cachoeiras de pensamentos desconexos e perturbados. Você tem que pescar os pequenos sinais do fio de contato que o garoto tem, de vez em quando, com a realidade externa. E muitas vezes é uma ou duas frases em cerca de dez páginas que fazem você perceber o que está ocorrendo, e quando cai a ficha é, de novo, perturbador. Uma das notas de orelha cita "uma mistura de Huckleberry Finn com Alex The Droog"... já dá pra ter uma idéia. Terrorismo psicológico no interior da irlanda...

Me lembrou um pouco o filme que usei como título do post, pelo jeito como a gente acompanha uma mente se desestruturando. Só que aqui a coisa é bem menos doce, bem mais pesada.

Fiquei curioso pra ver o filme. Neil Jordan, ou seja, não é pouca coisa... é um desprendimento o cara se jogar pra filmar isso, porque, na boa... não tem como ser filmado... o cara tem coragem.