07 July 2006

No fundo é tudo a mesma coisa

Hoje recebi por email um texto sobre um dos principais assuntos do festival de publicidade de cannes q rolou há algumas semanas: conteúdo criado pelo consumidor. Não é exatamente novo (há alguns tempo vem surgindo coisas como os filminhos da Converse, o ring da Coca Cola e por aí vai), mas rola falação como há alguns anos se fazia dancinha ao redor do termo "interatividade". É algo bem interessante porque, mais uma vez, bagunça algumas regras tradicionais da publicidade como a da onipotência de clientes e agências perante o consumidor. Por outro lado, vamos ser honestos... isso não é power to the people pq é tudo muito controlado. Eu só vou usar o seu conteúdo para vender a minha marca se vcs dois se conversarem direitinho.

A GM esses tempos colocou na internet uma série de trechos de filmes, trilha e a possibilidade de editar tudo isso para vc, amigo consumidor, fazer seu próprio filme do lançamento do TAHOE. A maioria foram comerciais elogiosos, mas também apareceram coisas assim:



Eninuêi... não adianta... o verdadeir conteúdo produzido e veiculado espontaneamente continua sendo o mais interessante...

A publicidade se move num eterno corredor polonês. É impulsionada pela necessidade da indústria, do comércio e dos serviços se comunicarem para não serem engolidos pela concorrência mas por outro lado gera uma cultura extremamente desgastante na qual os mecanismos deste ano já são facilmente identificados e rapidamente descartados tanto pelo consumidor quanto pela própria publicidade. Se toma porrada de tudo quanto é lado e a busca por atenção vira uma escalada em progressão geométrica na qual a ação de uma empresa faz com que a outra precise atuar de maneira mais pesada, mais gritante, mais presente. É muito parecido com a Guerra Fria: o medo de que o outro tenha mais mísseis faz com que eu me arme ainda mais, não tanto pela ameaça real, mas pela ameaça potencial.

Isso está chegando em um novo patamar. Até bem pouco tempo atrás, costumava-se dizer que a publicidade era intruso. Ninguém compra revista pra ler anúncio. Hoje já não dá pra falar o mesmo por vários motivos. Temos o conteúdo cada vez mais comprometido com interesses comerciais e a publicidade invadindo a área de conteúdo, o que eu honestamente nem sempre acho ruim. Tem muito conteúdo produzido por associação comercial com marcas que é melhor do que conteúdo produzido "espontaneamente". Às vezes eu penso se não corremos o risco de viver consumindo conteúdo produzido comercialmente vinculado a grandes corporações... mas acho que isso daí merece muito mais penso. Pode ser ingenuidade minha, mas eu ainda acho que as brechas sempre vão existir e elas são tão necessárias e naturais quanto as paredes que as formam. Não existem paredes sem brechas e nem brechas sem paredes. Saca?