Futuro do Pretérito
Ontem fui no Maximídia aqui em Porto Alegre, a versão via-satélite do evento que tava rolando em São Paulo. Peguei a palestra da Louise Sams, uma executiva americana lá da Turner, a empresa que manda na TNT, na CNN, etc e tal. O assunto era aquele: comunicação digital, integração de mídias, novas plataformas, o cardápio usual.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a humildade. Era tudo muito na base no "estamos testando", "estamos ainda entrando nesse segmento", "não sabemos como vai ser", uma atitude aberta e defensiva muito estranha para uma megacorporação americana. Ela disse claramente: "Ninguém tem o controle da inovação, nem os grandes grupos, nem os pequenos usuários. Cada um sabe uma parte. Há muitos caminhos e soluções."
O que me fez pensar em duas possibilidades: ou essa molér está escondendo o jogo ou realmente até as megacorporações estão meio perdidas nesse mundo. Acho que a segunda hipótese é bem plausível levando-se em conta o fato de que o Rupert Murdoch pagou 580 milhões de dólares pelo MySpace.
Eu não sou lá analista de mídia, mas, na boa... eu esperava sair de lá com novas informações e insights interessantes, mas tudo que aconteceu foi reforçar o que eu aprendo só por navegar aqui e ali, ler umas matérias. Tipo, eu nem mesmo trabalho com clientes de ponta no mundo online, e tudo que falaram lá me soou bastante óbvio. Qualquer zé mané com uma conexão na internet e alguma vontade de conectar assuntos pode se dar conta de que:
1 - é tudo muito novo e qualquer previsão, otimista ou pessimista, sobre qualquer área, é perigosa. De uma hora pra outra surge um MySpace ou um YouTube da vida que muda o jogo da indústria e o dinheiro começa a se encaminhar praquele lado. Pode até ser que isso fosse meio previsível pra quem estava ligado no lance de Web2.0, participação maior do público, uma evolução orgância do peer-to-peer. Mas a real é que a maior parte das pessoas ainda é pega de surpresa com fenômenos como o YouTube. Não faz muito o YouTube era um ilustra desconhecido por aqui e agora é quase uma mania, redefinindo a relação de muita gente com criação e consumo de conteúdo.
2 - apesar dessa nebulosidade, ninguém é louco (a não ser um carinha da Globo que tava lá defendendo a TV aberta) de desprezar o futuro das mídias móveis. Se vai concentrar tudo no celular ou se vamos ver um surto de pequenos gadgets portáteis com múltiplas funções (a la Blackberry), sabe-se lá. Por enquanto ainda estamos consumindo em mídias móveis fragmentos da mídia tradicional, mas em pouco tempo será preciso criar conteúdo específico que se comporte numa boa em movimento e em pequenas telas. Esses dias li uma matéria sobre isso: quanto menor a tela, menor a tolerância do consumidor à interferência dos comerciais. Claro né...
3- Justamente pela quantidade absurda de conteúdo disponível na internet, é preciso algum tipo de selo de confiabilidade. E aqui eu discordo da Lousie Smms, porque ela defende (claro) que são as grandes marcas que vão conferir essa "legitimidade", mas é óbvio que quem legitima tudo a partir de agora é a própria audiência. Cada vez mais aquele "amigo que entende de cinema" é uma fonte mais confiável do que o jornal, que vive de press-releases e de relações incestuosas entre o departamento comercial e a redação. Power to the people...
Uma coisa que não foi falada: wireless. Talvez ainda seja algo incipiente em grande escala, mas achei esquisito ninguém falar em troca de conteúdo via wireless.
Uma coisa que foi comentada mas que pra mim é o cerne da questão: a real é que NÃO INTERESSA qual é a tecnologia. Tecnologia se aprende, se compra, se dá um jeito. O que nunca se pode negligenciar é gerar e gerenciar conteúdo decente e de qualidade, ou no mínimo conteúdo que dê audiência (às vezes uma coisa exclui a outra).
Antes de você poder fazer esse conteúdo funcionar em diferentes plataformas, é preciso que o conceito básico esteja muito bem construído, fundamentado, que contenha certas verdades. Aí fazê-lo desdobrar seja lá pra que tamanho de tela for, é barbadinha.