Conector Entrevista Jeana Sohn
Esbarrei no trabalho da Jeana Sohn no ano passado lendo uma edição da Giant Robot, revista californiana dedicada à cultura pop asiática. Nas semanas seguintes à primeira leitura da revista, quase todos os dias eu abria de novo as páginas só pra curtir as pinturas dela. Dando aquela vasculhada básica na internet, não demorou muito pra que eu encontrasse o site e o blog da Jeana, de onde tirei seu contato. Depois de uma conversa preliminar com apresentações e amenidades (arte pop, Miranda July, essas coisas), voltei a me debruçar sobre o trabalho dessa artista coreana radicada em L.A pra levantar algumas questões que ela respondeu rapidamente e sem frescuras por email:
Início, influências e essa cena da Giant Robot
Conector: Como você começou a pintar?
Jeana: Dois anos e meio atrás, eu vi uma exposição na Giant Robot em L.A. e fiquei muito inspirada. Voltei pra casa e comecei a pintar no mesmo dia.
Conector: Você vê seu trabalho inserido em algum movimento?
Jeana: Sim, eu acho que as minhas coisas se encaixam nessa coisa de jovens artistas asiáticos, essa cena da Giant Robot. Acho que isso poderia ser considerado um movimento.
Conector: Quais são suas influências artísticas? E fora das artes, o que mais serve de inspiração?
Jeana: Minha família e minhas memórias da infância são minhas maiores influências. Fora isso, eu AMO o trabalho de Kiki Smith. Ela é minha maior influência na arte. Eu também gosto de Marcel Drama, Kyle Field e Mel Kadel. Filmes e músicas também me inspiram muito. Meu marido faz trilhas pras minhas exposições, é incrível!
Coelhos, bigodes, magnólias: o incrível mundo de Jeana Sohn
Conector: Que mundo é esse que se manifesta nas suas pinturas e desenhos? Parece ter um equilíbrio entre a infantilidade dos personagens e uma certa maturidade que surge talvez na paleta escura de cores, na escolha de não usar tanto cores primárias.
Jeana: Eu tento fazer com que as pessoas vejam o mundo do ponto de vista de uma criança através das pinturas. Todo mundo tem um pouco de criança dentro de si. Se eu usasse cores primárias e desenhasse crianças, acho que tudo ia parecer ilustração de livro infantil. As cores são muito importantes pra mim. Eu uso muitas cores fechadas e acho que isso ajuda a adicionar mistério à história.
Conector: Tubarões, flores de lótus, pequenos homens de bigode que você não sabe dizer se são homens ou garotos... meninas com roupa de natação, coelhos... de onde vem tudo isso? Isso tudo tem algum significado?
Jeana: Todos esses personagens infantis são meu irmão, meus amigos e eu mesma quando era criança. Os adultos são meus pais. A maior parte das histórias são minhas memórias de infância, mas em ambientes que eu crio. Por exemplo, a garota com roupa de natação sou eu num dia de verão em 1985. Nós fomos pra praia e eu estava me afogando, quando alguém me salvou. Até hoje lembro da cara da pessoa que me salvou. E eu adoro usar bigodes em garotos... bigodes têm essa coisa do disfarce, do fingimento... eu acho que coloca um pouco de sentimentos obscuros nos personagens. Quanto às flores de lótus, muita gente pensa que elas são flores de lótus, mas na verdade elas são magnólias, que são as flores prediletas da minha mãe. Havia muitas árvores de magnólias perto da casa onde eu cresci.
O processo criativo
Conector: Como a mistura de cultura coreana e americana se manifesta no seu trabalho?
Jeana: Me perguntam muito isso, mas honestamente, eu não sei como responder. Na verdade eu não acho que isso tem a ver com culturas. Pra mim, tudo vem dos meus pensamentos e das minhas experiências, não são assuntos relacionados diretamente a essa ou aquela cultura.
Conector: E o seu treinamento em design gráfico e em desenvolvimento de personagens de animação?
Jeana: Do design gráfico eu acho que aprendi composição, linhas, uso de espaço negativo e outras coisas desse tipo. Em animação, eu aprendi como contar uma história, como criar um personagens, uso de cores...
Conector: Como é o seu processo criativo? Você segue alguns pequenos rituais antes de começar a trabalhar?
Jeana: Eu geralmente passo alguns dias só sentada na minha mesa, pensando no que eu quero pintar. Depois de ter algumas idéias, eu faço alguns sketches e imagino como compôr. Então eu começo pelo fundo, depois traço e por último eu coloco as cores.
Conector: Como é a escolha dos materiais e os assuntos? Quando você decide se vai pintar um quadro ou um objeto?
Jeana: Quando eu comecei a pintar, eu não sabia o que pintar. Então eu ficava observando o trabalho de outras pessoas e tentando fazer algo grande e maravilhoso. Só que eu percebi que não estava fazendo nada meu, nada com a minha cara e eu queria fazer algo muito pessoal, com a minha personalidade. Então eu decidi pintar as histórias da minha infância
Conector: Você tem um atelier ou trabalha em casa?
Jeana: Não tenho um espaço próprio, mas gostaria de ter. Hoje eu trabalho na sala de estar do meu apartamento, só que ele é muito pequeno e eu me distraio o tempo todo com meus animais de estimação, com a internet e com os amigos que moram por perto...
Conector: Você fica pensando nos teus trabalhos quando está fazendo outras coisas que não pintando?
Jeana: Eu tento esquecer meu trabalho enquanto estou fazendo outras coisas. É muito estressante ficar só pensando nisso. Sempre que eu pinto, fico com dor de cabeça e dores no corpo...
Enfim...
Conector: Por que você tem um blog?
Jeana: Eu sempre fui super curiosa sobre a vida dos outros artistas. Então eu estou mostrando a minha: como eu trabalho, com quem eu trabalho, como vão indo meus novos trabalhos...
Conector: Falando nisso, quais são seus próximos projetos?
Jeana: Eu tenho várias exposições vindo aí. Não tenho plano algum além da arte!
Conector: Você tem alguma outra atividade ou vive das suas pinturas? No Brasil é muito comum pessoas ligadas às artes terem um outro emprego pra sobreviver.
Jeana: Sim, eu faço storyboards para animação infantil, mas isso geralmente me toma apenas 5 meses por ano. Parece não haver muito dinheiro circulando no meio artístico, mas há esperança!!!