11 January 2007

Vocêêêê... vocêêêê... e vocêêêêê...

Todo o papo que tomou conta de 2006 a respeito do consumidor tinha que dar nisso: a Time escolheu VOCÊ como Personalidade do Ano. A Spin escolheu VOCÊ como Artista do Ano. A Advertising Age, principal publicação de publicidade nos EUA, escolheu VOCÊ como Agência do Ano.

Pra bonito, chamamos isso de CGC - Consumer Generated Content, Conteúdo Gerado pelo Consumidor. Ou então UGC - User Generated Content, Conteúdo Gerado pelo Usuário. Tanto faz, tanto fez, tem até uma discussão na Wikipedia sobre a nomenclatura...

Isso não surgiu em 2006, claro. Em termos mais rudimentares, o rádio sempre foi um veículo com muita participação do ouvinte, a Reader's Digest sempre contou com a colaboração de seus leitores. Mas era tudo muito tímido e ainda havia claras separações entre produtor e consumidor.

Agora, a coisa veio crescendo de um jeito diferente nas últimas décadas. Especialmente desde que o termo "customização" começou a aparecer no fim dos anos 90 e cresceu naturalmente com o excesso de ofertas de produtos (para se diferenciar, buscaram a proximidade com nichos cada vez mais específicos), com as facilidades cada vez maiores na industrialização e nos avanços da tecnologia. A tendência natural de frescurização do ser humano também ajudou.

A internet é CGC por natureza, mas um dos exemplos mais interessante disso nos últimos meses é um lançamento offline: a revista popular Sou + Eu, da Editora Abril. Comprei uma (de 2,50 por 1,99!) pra dar uma bisbilhotada e é impressionante.

Todas as reportagens, as receitas, as dicas de beleza, as dicas de moda, tudo aquilo que antes era determinado por uma editoria agora é REDIGIDO pelas leitoras e enviado EM TROCA DE PAGAMENTO (claro que deve haver uma copidescagem). Há splashes em cada categoria de matéria. "Se sua matéria sair com 3 páginas, você recebe R$ 500,00". Quinhentinhos. Deve ser o salário da maioria das leitoras. "Se a sua receita for publicada, você recebe R$ 50,00". E por aí vai. TODA a revista é assim.

Outra presença constante nas retrancas é a possibilidade de participar da revista via SMS. A leitora pode, por exemplo, enviar piadas por torpedo, também recebendo R$ 50,00 se for publicada. Um leilão de "Quem paga menos" deu ao vencedor um carro. Ele fez lances cada vez menores, também por celular, enviando cerca de 40 torpedos. Os emails também são utilizados pra enviar fotos para a seção de Transformação Virtual (mais cinquentinha se sua foto photoshopeada for publicada) ou para mandar as colaborações.

Então você vê que a Sou+Eu faz o que muita publicação mais "sofisticada" tenta e não consegue muito bem: borra os limites entre as mídias e entre a separação leitora/editoria. Tudo bem: é um borrão pop, controlado e altamente comercial. Mas não deixa de ser interessante ver um bicho assm surgindo.


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O comercial de lançamento da revista é interativo: qualquer leitora pode ligar para um número e gravar o texto numa secretária eletrônica. Se for escolhido... quinhentinhos!!


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Uma pena que, a despeito da riqueza humana de várias histórias publicadas, existe uma pobreza de escrita e uma carência de novos conteúdos.

Todas as matérias trazem um texto simplório, quase um bate-papo rasteiro transcrito. Tudo flui, mas carece de grande elaboração, o que puxa pra baixo a possibilidade de uma pessoa crescer um pouco lendo construções frasais mais interessantes. Mesmo revistas como Contigo! parecem ter um pouco mais de cuidado nisso. Aqui a espontaneidade é gol contra.

Quanto ao conteúdo, também. Não que a vida das celebridades tragam grandes novidades, mas parece que as dicas e histórias das leitoras entram num loop sem o aporte de informações frescas que chegam por parte de jornalistas que vivem fora do mundo da leitora. Aqui pode ser um preconceito de classes/atividades... mas é assim que me parece no momento.

Se eu continuar lendo a revista, conto pra vocês o desenrolar.