The Good The Good and The Good
Falar sobre esse disco pra mim é falar de todo um jeito de produzir cultura pop que vem amadurecendo nos últimos dez anos. Damon Albarn sabe fazer essas coisas, sabe mexer no caldeirão pop. Sem querer puxar o saco, ele tem a manha. Quem mais consegue chamar o guitarrista Verve, o baixista do Clash, o baterista do Fela Kuti e o produtor que levou a cultura mash-up às massas pra um mesmo disco? E dar um jeito disso tudo fazer sentido? Só quem conseguiu ir a Mali e fazer um disco com músicos africanos sem fazer estardalhaço sentimentalóide por causa da fome... só quem conseguiu criar uma banda de desenho animado com mais consistência musical e sucesso comercial do que muitas bandas de verdade... só quem conseguiu cair fora do britpop antes que ele virasse piada.
The Good The Bad and The Queen é maior do que a soma das parte. As partes são muito claras: a voz aguda e Albarn, acompanhada por um divertido piano, as guitarras cheias de ecos e efeitos psicodélicos gelados de Simon Tong; os baixos gordos e exatos do Paul Simonon ... a bateria percussiva, ao mesmo tempo relaxante e nervosa de Tony Allen. A soma, por sua vez, é indefinível. Em boa parte graças à mão do produtor Danger Mouse, responsável dois dos discos mais inteligentes, dançantes e criativos do pop da última década (Demon Days do Gorillaz e St. Elsewhere do Gnarls Barkley). É o cara que levou a cultura mash-up às massas de uma maneira não óbvia, sem precisar juntar duas faixas como no playlist da Joven Pan.
Música ampla, fluída, repleta de camadas, melodias espaciais, baixos gordos marcados, batidas ricas mas ainda assim marcadas, dançantes: a trilha sonora de um mundo em um processo de cotidiana desconstrução e reconstrução.
Esse disco fala muito sobre nossos tempos. Tem um monte de respostas curiosas aqui. E um outro punhado de perguntas ainda mais interessantes. E não é nas letras. Não é no encarte. Não é no som. É na experiência. É nas camadas. É na falta aparente de foco.
Eu não estou viajando. Estou falando bem sério.