12 February 2007

Pequena Miss Sunshine



Me lembrei de Jigme Khyentse Rinpoche: o mais importante é um coração tenro. E que bom que existem filmes como esse, que parecem especialmente desenhados para derreter alguns corações. O meu foi totalmente amolecido e isso depende, claro, do quanto você coloca de seu no filme, das suas conexões. É uma base, um espelho, uma forma de pudim pra você rechear com a sua história, deixar cozinhando durante a projeção e ao final virar pra ver no que deu.

É um filme sobre família, sobre ligações familiares, mas em última instância também é sobre as ligações entre pessoas, quaisquer pessoas - ali representadas por uma família disfuncional e essa é a questão: existe família funcional? Não seria uma contradição em termos? I hope so...

É um filme de assunstos concentrados: 6 pessoas são reunidas numa kombi com suas questões misturadas sob pressão durante um fim de semana na estrada. É como se viajassem em uma panela de pressão psicológica, cozinhando os entendimentos e desentendimentos pra ver que bicho dá.

É um filme sobre a mitologia americana em torno do Vencedor e do Perdedor e mesmo que não estejamos tão imersos nessa cultura quanto alguns personagens do filme, ela costuma transbordar do norte do nosso continente aqui pro sul através dos produtos culturais, então também faz algum sentido pra gente.

É um filme sobre pais, filhos, velhos, gays, vencedores, perdedores, frustrados, esperançosos, achados e perdidos.

É um filme sobre ser humano com todo e som e fúria que isso inclui.

É, de fato, um pequeno raio de sol, que não sai da tela, sai de dentro do coração de quem está assistindo. E me lembrei de Shantideva:

"Assim como numa noite em que as nuvens adensam ainda mais as trevas, o relâmpago pode às vezes brilhar."

O relâmpago de dentro, não o de fora.