21 March 2007

Conector Entrevista Mono



Camiseta: a mídia mais clássica e mais atualizável da história da cultura pop. Esses pedaços panos costurados de forma simples são os Ramones do vestuário: três acordes, pá-pum, duas mangas, uma estampa e era isso. Nos últimos tempos, a camiseta voltou a ocupar um espaço importante no imaginário pop graças à colisão da tecnologia (softwares gráficos, fotologs, câmeras digitais, etc) com a volta da estética punk rock de um jeito mais abrangente e aberto que na época do grunge.

Nessa batida, a Mono vem há 4 anos se estabelecendo como uma das principais marcas de camiseta no país e fluindo num jeito de trabalhar que as grandes marcas estão penando pra tentar entender. Idéias como long tail, mentalidade open source, co-creation e conteúdo gerado pelo consumidor são o dia-a-dia da Mono e não um monte de teorias espalhadas por um power point corporativo.

Por essas e por outras, Conector bateu um papo com o Patrick (que toca comigo nos Walverdes) e com a Maria, os Sócios-Diretores-Fundadores e também Empregados da Mono.

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Todo mundo tem uma missão no mundo




Conector: Qual é a missão da Mono no mundo?
Patrick: Ela se resume em 6 mandamentos: 1) Sustentar eu e a Maria. 2) Trazer alegria pra mim e pra Maria. 3) Manter nós dois sempre em "movimento criativo" 4). Garantir de alguma maneira boa o nosso futuro. 5) Alegrar as pessoas que se interessam pela Mono. 6) Infernizar a atual e a futura concorrência.

Analógico vs. Digital



Conector: A Mono consegue misturar serviços digitais e analógicos, internet com depósito em banco e Correios. Como é que isso funciona tão bem? Como vocês conseguem fazer as pessoas irem até o banco depositar a grana numa época que ninguém quer sair da frente do computador?
Patrick: Eu gosto muito de quadrinhos e fico sabendo dos lançamentos pela internet. Daí, quando tem alguma coisa que me interessa, eu tenho que ir até a Livraria Tutatis. Caminho até a Assis Brasil, pego ônibus, dou mais uma pernadinha e chego lá todo suado só pra comprar umas duas revistas. Então caminho mais uma pernada pra pegar mais um ônibus e chegar em casa... acontece que essas revistas eu só acho lá na Tutatis, então vale o "sacrificio". Quem compra Mono sente a mesma coisa, com a vantagem que tu pode depositar em alguma lotérica depois de almoçar ou fazer transferência pela internet.
Maria Elvira: A idéia, com o tempo, é possibilitar o pagamento diretamente através do site, mas queremos fazer isso com cuidado.

Conector: Por que vender pela internet?
Maria Elvira: Com um site tu não precisa pagar aluguel, IPTU, luz, telefone, arrumar fachada de uma loja. Além disso, dá pra distribuir o produto pra todo o país sem o intermédio de um lojista. A grande maioria das confecções brasileiras é microempresa, o que deixa elas "espremidas" entre fornecedores gigantes que praticam os preços que bem entendem e lojistas que muitas vezes exigem consignação ou levam o preço do teu produto à estratosfera, sendo que não tiveram nenhuma gota de participação na criação dos produtos. Nós distribuímos o nosso produto através dos correios, que é uma instituição extremamente confiável.
Patrick: Além disso, nós adoramos a internet!

O Patrick está louco então



Conector: Uma vez a gente conversou e tu me contou que procura não tratar os clientes como idiotas. Como é isso?
Patrick: "Marca X, a melhor do mercado!! Use a marca X e fique feliz!! Chegou a marca X, compre agora a marca alternativa, fashion e roqueira X!! Muito design na marca X!! ", por exemplo. Muitos sites fazem isso, brincando de publicidade abobada. Claro que tem público pra tudo, algumas pessoas gostam, são nichos. Mas quando eu leio eu penso "acho que tão querendo me convencer...." Eu acho isso muito chato e não quero passar isso pros nossos clientes. Mesmo que isso signifique vender menos. Procuramos não "cagar regra" pros clientes (tipo COMPRE ESSA, TU VAI FICAR BEM COM ELA!!). Se o cliente pedir minha opinião, eu digo o que achei, sem mentir e sem tentar empurrar o produto goela abaixo e somos diretos ao ponto na hora de atender. Eu fiz um teste pra ser vendedor na Banana Records uma vez. Um monte de candidatos à vaga numa sala, com uma psicóloga e cada um tinha que simular a venda de um objeto qualquer. Me deram uma ESCOVA pra vender; quando chegou a minha vez, eu disse: "Essa escova custa 10 reais. Vocês precisam de mais alguma informação?" A psicóloga achou que eu tava brincando, me olhou com cara feia e tudo. Um outro cara tinha que vender uma BOTA, ele foi pro teste de terno e gravata, devia ter a minha idade... ele ficou falando uns 10 minutos sobre as vantagens daquela bota, cheio de piadas e fazia umas caras engraçadas, o cara era realmente muito criativo. Mas se EU estivesse pensando em comprar aquela bota, não ia querer ouvir aquela ladainha. A psicóloga adorou ele. Pensei: "tô louco então!!"

Wall Street – Poder e Cobiça



Conector: Como é começar a se enxergar como empresário e empreendedor? Sei que essas palavras são esquisitas, mas de onde eu olho é o que eu vejo acontecer com vocês, uma profissionalização que faz a coisa andar.
Patrick: As coisas foram acontecendo sem planos mirabolantes, tudo naturalmente. Aconteceram da necessidade. Nós estávamos desempregados, sem grana total...mas eu sempre gostei de desenhar, eu vendia desenhos do Axl Rose e do Eddie do Iron Maiden no colégio! E a Maria sempre se interessou por moda...eu me enxergo, no contexto "Mono", da mesma maneira que eu me enxergo no contexto "Walverdes": tô ali fazendo uma coisa que eu gosto, e se os outros gostarem, beleza!!
Maria Elvira: A gente trabalha em casa, mas não por isso deixa de ter disciplina. Dá prazer, mas não deixa de ser trabalho.

A onda das camisetas & do rock



Conector: Vocês não acham que uma hora a onda de camisetas e de rock vai passar? Se isso acontecer, o que vocês vão fazer? Ou vocês acham que sempre vai ter um nicho interessado no que vocês querem fazer?
Patrick: Cara, pessoalmente eu gostaria que essa onda rock de uma maneira geral acabasse o quanto antes! Tu vai na C&A e na vitrine tem 15 camisetas e baby looks com caveiras fofas e guitarras desbotadas estampadas escrito "Rock" em cima. Profissionalmente, isso não influi em nada na Mono, é outra praia. Quando nós começamos não existia nenhum site na nossa linha. Hoje tu chuta uma árvore caem 5 sites que copiam até nossos textos... Não me preocupa o "quando a onda acabar", porque o nosso público não é o da "onda", não estamos inseridos nisso. A Mono sempre teve e sempre terá um perfil "underground" e sempre vai ter pessoas interessadas nisso. São as mesmas pessoas que freqüentam shows de rock independente. E esse público sempre se renova. Nós fazemos parte desse público, desse cenário.
Maria Elvira: O negócio é se reinventar e isso nós já estipulamos há anos. Quando o primeiro site nos copiou resolvemos mudar de direção. Hoje algumas peças têm mais cara de "rock" mas a maioria foge do esteriótipo, tanto que muitos clientes compram somente pelo design.

Conector: Parece que rolou um boom da mídia camiseta nos últimos 5 ou 6 anos. Por que tu acha que isso aconteceu?
Patrick: Isso acontece por causa das facilidades do computador - um monte de gente tem, um monte de gente gosta de design e esse monte de gente cria estampas, mandam numa serigrafia e botam na internet. O fato é que hoje muita gente mexe com programas tipo corel, photoshop e criam estampas. Mas não é muita gente que cria estampas legais...
Maria Elvira: A camiseta é um ítem fácil de ser comercializado à distância pelo fato de ter um corte reto. É só disponibilizar as medidas e qualquer pessoa consegue descobrir o tamanho certo para ela e por isso está sendo a "base" do comércio virtual de confecção no Brasil, o qual certamente irá se expandir cada vez mais e oferecer produtos mais elaborados.

Conector: E por que as pessoas escolhem a Mono entre todas essas opções?
Maria Elvira: O site da Mono foi o primeiro brasileiro de camisetas no segmento rock alternativo sem ser necessariamente a tradicional camiseta preta com caveiras. Isso faz mais de quatro anos e de lá para cá inúmeras marcas de camisetas surgiram. Acredito que o fato de termos mais experiência que os concorrentes conta muito para as pessoas escolherem a Mono.

CGC: Camisetas Geradas pelo Consumidor



Conector: Como vocês fazem pra manter a integridade da marca e dos produtos Mono?
Patrick: Tudo é feito do jeito que a gente gosta, sem seguir "regras de mercado" ou "regras de design". Evitamos massificar demais a marca. Tu não encontra "pontos de venda" da Mono pelo Brasil, só encontra no site. Podemos lançar uma estampa nova com uma tiragem de 30 camisetas, vender tudo pelo site em dois dias e re-editar aquela estampa dois ou três meses depois. Isso faz parte da proposta da Mono, da não-massificação do produto. Não queremos milhares de pessoas usando, queremos que quem usa sinta orgulho de usar.

Conector: Qual é a melhor forma de divulgação que vocês já usaram até hoje?
Patrick: Internet. É uma bola de neve, a pessoa compra, gosta e avisa os amigos, que nos procuram, e que avisam outros amigos... e essa "corrente" é feita na internet mesmo. Orkut, fotolog, blog, myspace. A marca se divulga sozinha. O Orkut ajuda muito, também. Nossa comunidade é uma grande fonte de idéias, sugeridas pelos clientes.

Conector: O que vocês têm em comum com os clientes de vocês?
Patrick: Gosto parecido pra música, cinema e, principalmente, design.
Maria Elvira: Talvez mais do que imaginamos, porque os que tivemos oportunidade de conhecer bem acabaram virando amigos.

Influenza



Conector: Fora as influências óbvias de música, moda e design, o que mais inspira vocês?
Patrick: Tudo. Nós estamos sempre de radar ligado, catando coisas que nos interessam. Uma capa de revista, um outdoor, um rótulo, um grafitti, um chão sujo, poeira em cima de móveis, fumaça de cigarro na noite... a cidade, a rua e a sujeira são influências fortes. Tudo é aproveitável, tem inspiração em tudo, tudo toma forma. Até o clima pesado ou leve das situações do dia-a-dia refletem na hora de criar.
Maria Elvira: Mais ou menos como o Patrick... o que eu crio é simplesmente uma grande colagem de tudo o que eu absorvo. Assistindo filmes, visitando brechós, admirando os ladrilhos no centro da cidade, tirando fotografias em viagens, observando o desenho, a ranhura e as folhas das árvores, olhando de novo um quadro já conhecido, vitrines, recapitulando sonhos, cheirando frutas na feira, entre milhares de outras coisas.

Conector: Que influência que tocar nos Walverdes tem no trabalho da Mono?
Patrick: Com os Walverdes eu levei a Mono pra vários festivais de rock independente pelo Brasil, que é onde o público da Mono está. É legal encontrar pessoas pra quem eu já vendi camisetas por email e conversar com elas pessoalmente. Todo o ambiente/universo em torno do Walverdes provoca influências pra Mono na hora de criar, assim como pro próprio Walverdes na hora de compor

Seguir em frente, simplesmente




Conector: Se tu começasse de novo a Mono hoje,o que faria diferente?
Maria Elvira: Hoje eu saberia lidar melhor com os fornecedores, escolher um produto de melhor qualidade, não ser enganada por costureiras duvidosas.
Patrick: Todos os erros que cometemos serviram pra nos ensinar. Tudo na Mono sempre foi muito experimental, todo os dias aprendemos algo novo.

Conector: Qual é o objetivo da Mono pros próximos anos? Tem planos de crescimento?
Patrick: Nunca tivemos muitos planos. Na verdade, as coisas foram acontecendo, fomos aprendendo na tentativa-e-erro. Nunca tivemos nenhum modelo pronto, "ah vamos fazer assim ou assado". É tudo teste, nosso trabalho é experimental sempre. Pretendemos continuar seguindo em frente, simplesmente.