Impermanência
Sexta vi a exposição "Corpo Humano: Real e Fascinante" na Oca em São Paulo. Não sei se você sabe do que se trata, mas basicamente o Dr. Roy Glover dissecou vários corpos humanos, remontando tudo em diferentes posições e recortes. Por causa de uma resina especial, fica tudo conservado e montado de forma que você consegue ver os órgãos, sistemas, os tubos e conexõe com uma crueza perturbadora.
É, como eu disse, extremamente perturbador. Não porque talvez sejam corpos de dissisdentes políticos chineses ou porque simplesmente parece churrasco. Mas porque fica muito clara a nossa fragilidade, em como basta um cortezinho aqui e ali na hora errada e PIMBA.
Eu passei mal. Claro que pode ter sido a mistura do almoço (que foi generoso e ainda não estava totalmente digerido) com a visão daquelas vísceras, mas a real é que durante pelo menos uma hora e meia eu só conseguia pensar na impermanência, em como é realmente um milagre que a gente respira e está vivo, em como a noção de "eu" e de "identidade" é apenas um conceito, um rótulo mental. Porque fica difícil encontrar "eu" naquele amontoado de células de diferentes densidades e "materiais". Eu olhava ao redor as pessoas da exposição e ficava imaginando os esqueletos, o sistema circulatório, etc, tudo aquilo se movendo, envelhecendo, as células se renovando a ponto da "mesma pessoa" nunca ser "a mesma pessoa" porque está tudo simplesmente mudando segundo a segundo. É engraçado, porque o nome da exposição traz esse lance de"Real e Fascinante". Ok, fascinante, de fato. Mas "real"? Aí entram todas aquelas questões a respeito da natureza da realidade e etc... não vou me estender nisso.
O fato é que eu leio, leio e leio sobre impermanência e é tudo muito bonito de se pensar, mas quando vem essas granadas a coisa tem outra coloração, sabe... espero não esquecer disso.
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Por outro lado, as duas tentativas humanas mais prementes permanência: arte e plático. Dei uma olhada na Plastik em SP, a primeira loja (eu acho) que é totalmente dedicada à toy art (e correlatos). Muita coisa legal, em especial dos poucos que conheço, tipo o Gary Baseman (do desenho que abre o post e do Yoshitomo Nara (logo aqui acima).
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O nome da imagem acima do Nara é "Pilgrims", peregrinos. Quando vi, pensei como voltei religioso dessa exposição do corpo humano. É claramente uma atração com viés científico, mas eu voltei extremamente religioso.
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Falando em impermanência e essas coisas, o Eduardo Pinheiro manda avisar que o seu Tzal está recheado de novos posts. Vale um conferes.
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Falei dessa coisa do plástico e da permanência porque tá tudo meio interligado: sexta eu estava em SP para uma reunião com nosso cliente Braskem, que fabrica resinsas termoplásticas, que é o que se utiliza pra fabricar incontáveis "coisas" de plástico, de tupperware a caixas d'água, de embalagem de Ruffles a colete à prova de balas. Estou me inteirando a respeito de toda a cadeia e da cultura do plástico. É fascinante e assustador. Como o corpo humano.