Viagem a Darjeeling
Resumito: a princesa Amigdala faz muxôxo para o Jason Schwartzman num quarto de hotel em Paris repleto de referências à moda e ao design. Ela aparece pelada - sem photoshop - e rola. E isso é só o curta metragem que abre a história toda.
Então passamos para um problema entre 3 irmãos que não resolveram todas suas pendengas familiares - a saber, especialmente, uma questão relativa ao funeral do pai, a fuga da mãe para um convento de freiras no himalaia e as tradicionais implicâncias de personalidade entre irmãos.
Tudo tem início com o muso indie Bill Murray correndo para pegar um tremna India e logo atrás vem o Jason Schwartzman, o Owen "pareço estar sempre chapado" Wilson, o pianista narigudo Adrien Brody e mais uma penca de malas de viagem clássicas desenhadas pelo Marc Jacobs para a Louis Vuitton (que mais tarde foram a leilão para financiar caridade na India).
Assim somos catapultados para o mundo paralelo de Wes Anderson, onde todas as famílias são disfuncionais (paralelo?) e Deus é designer.
Bem vindo a Viagem a Darjeeling.
A gente encontra os mais diversos reviews na internet
Sim, Viagem a Darjeeling - como Os Excêntricos Tennenbauns e A Vida Marinha de Steve Zissou (Rushmore, pelo que me lembro, é menos e o outro aquele eu não vi), é um filme cujo apelo visual é meticulos e maliciosamente construído. Cada suspiro, cada cadarço, cada trinco, cada tábua do assoalho, cada lata de chá tem sua contribuição na perfeita tecelagem do universo andersoniano. O rapaz não é muito satisfeito com o jeito que as coisas são naturalmente, mas sejamos honestos: quem aí não gostaria de mudar aqui e ali algumas coisinhas e deixar exatamente com a sua cara?
Foi por isso que passei metade do filme irritado - e só não continuo irritado porque minha mulher me abriu os olhos pra alguns aspectos do filme. Por exemplo, minha inveja do Wes Anderson.
A real é que ele tem a manha de embalar os mais escabrosos problemas de família em pacotes absolutamente estéticos, belos, poéticos, muito bem ajeitadinhos. Viagem a Darjeeling é um bem coordenado buffet de referências contemporâneas, misturando indiano vintage com elegância marjacobsiana, um pouco slacker, aquele nemaí estudado dos anos 90 - aqui mais adocicado. Fico curioso para saber o quanto isso vai envelhecer e bizarrear, ou se vai permanecer.
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O que mais você pode querer das suas falhas de San Andreas existenciais do que se tornarem ornamentos brilhantes que são expostos quase como jóias e não como feridas?
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Mas existe uma diferença, eu acho, entre Darjeeling e os outros filmes do Wes Anderson: o universo fechado dos personagens pela primeira vez é perfurado pela vida real.
Primeiro de forma clara num incidente que rola no meio do filme e que não vou revelar. Só digo que é quando senti que um pouco de humanidade menos indie foi tipo injetada no cenário andersonesco a partir de um evento bem... forte. O filme mudou de cara pra mim a partir desse ponto e eu parei de me irritar um pouco. Porque, apesar do slow motion, da trilha (o que era aquilo? Kinks? Stones), dos figurinos e da fotografia, tem certas coisas que nunca vai dar para encobrir.
Segundo porque, desde o início da viagem, a noção de "vou pra India realizar minha trip espiritual" é tratada com suave sarcasmo. Apesar das tentativas constantes do Owen Wilson em manter a viagem na linha (é seu papel no power trio de irmãos), tanto do ponto de vista prático (tabelas com horários e esquemas) quanto do ponto de vista espiritual (coordenando rituais patéticos) .
Obviamente as coisas nunca saem como esperado e no fracasso total de empreender uma "viagem espiritual" (com aspas feitas com dedinhos), eles conseguiram no fim das contas empreender uma viagem espiritual (caem as aspas e os dedinhos).
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Conversando com um amigo no msn, sem querer ele me deu a barbada: o destino de Viagem a Darjeeling é a Sessão da Tarde. E o filme tem tudo pra virar um clássico de tardes preguiçosas: 3 irmãos num trem pela India envolvidos naquilo que o locutor da Globo bem definiu sobre a vida: uma tremenda confusão...