Terra Pura de Padmasambava
Em Três Coroas, a uma hora e meia de Porto Alegre, existe o Chagdud Gonpa Khadro Ling, um centro budista com diversos monumentos e um grande templo que abriga cerimônias e retiros. O complexo todo também é aberto à visitação e virou ponto turístico obrigatório no circuito da serra gaúcha. Tudo lá é construído a partir da orientação de mestres realmente roots e com a ajuda de trabalhadores voluntários que são praticantes budistas, em grande parte brasileiros e americanos. As obras mais elaboradas, no entanto, costumam exigir a presença de artistas butaneses, tibetanos ou nepaleses devido à complexidade da execução.
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Nesse último fim de semana eu tive uma oportunidade incrível: ajudei o pessoal do Khadro Ling a registrar entrevistas dos artistas butaneses e nepaleses que estão trabalhando no mais recente projeto do centro.
A "Terra Pura de Padmasambava" é um templo com 3 andares que estão sendo preenchidos com estátuas e pinturas incríveis, constituindo numa réplica perfeita da morada simbólica de Padmasambava, o mestre indiano que levou o budismo da India ao Tibet e criou toda uma classe de ensinamentos budistas que ainda hoje são praticados e fazem total sentido.
Alguns dos artistas estão há cerca de cinco anos no Brasil e a presença deles por aqui é uma pequena e discreta jóia cultural e espiritual.
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A arte desses cara é indissociável da prática espiritual. Você aprende as duas coisas juntas. Esse tipo de abordagem artística geralmente causa um certo desconforto em nós, acostumados à ditadura da expressão individual – que é uma ditadura, vamos combinar.
Na hora de construir a pauta para as entrevistas, eu sugeri que se perguntasse a eles como é fazer arte sem estar ligado à questão espiritual ou religiosa e a pessoa com quem eu estava trabalhando falou: “Nem perca seu tempo, não existe isso pra eles”.
Ou seja, não existe essa coisa de "arte pela arte". O que eu, enquanto músico obcecado pela identidade das músicas que componho junto com meus colegas de banda, blogueiro preocupado com a linha do meu blog, acho ao mesmo tempo assustador e desafiador.
Comentando isso, não quero cair no precário clichê de que “os orientais são mais profundos que os ocidentais”, pelo contrário. Até que se prove o contrário, são todos seres humanos. Mas é justamente esse choque de possibilidades, parâmetros e visões diagonais que produz novas formas de ver as coisas.
O pensamento que mais me vinha à mente ao longo das entrevistas ou quando eu estava por lá vendo o trabalho era: "O que eu estou fazendo aqui?" Não estou falando da questão existencial da vida, mas propriamente de estar lá olhando aquelas estátuas e pinturas. O que eu estava fazendo lá? Olhar estátuas, pinturas, rezar...
O melhor é isso, não? Não existe uma boa resposta para isso. Eu posso escrever parágrafos inteiros justificando, mas e daí? Ainda assim, eu tenho esse hábito de explicar... mas vou poupá-los... pobre da minha mulher, que ouve toda a intelectualização...***
Existem outros clichês que são verdade: a paciência, a dedicação e o detalhismo na execução das tarefas. Mas isso, eu me dei conta à pouco, não é exclusividade de artistas orientais. Os bons artistas, em geral, não costumam ser vagabundos, mas gente incrivelmente focada e trabalhadora.
Vale dar uma olhada também no blog da artista brasileira Tiffani Rezende. Ela passou anos estudante arte sacra tibetana e está pintando um outro templo budista em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre.
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Esse tipo de energia, focada, direta e respaldada pelos ensinamentos de grandes mestres espirituais, têm a capacidade de construir um lugar altamente inspirador. Não é como se simplesmente qualquer um sentasse lá e começasse a tirar do papel um projeto arquitetônico tradicional do Tibet. É mais do que isso: é intenção compassiva e energia de alta qualidade moldando cimento, barro e tinta com o único intuito de inspirar as pessoas a se reconectarem com sua natureza mais básica e tranqüila.
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Pensamento vai, pensamento vem, parece que eu vou ficando em cima do muro. Mas é porque não estou conseguindo, de fato, passar algumas coisas que eu estava sentindo. O melhor é o seguinte: dêem uma boa olhada nas fotos, aguardem um novo site sobre a obra que vem por aí e se preparem que no final do ano a Terra Pura de Padmasambava vai ser consagrada e aberta à visitação pública.