25 March 2008

Celeuma


Há semanas que eu estou para linkar aqui um ótimo texto do Fernand Alphen, diretor de planejamento da F/Nazca, a respeito do conteúdo dos blogs. A crítica do cara é a respeito do excesso de regurgitação de informação: muita referência, pouca reflexão.

"Não existe nada mais infértil do que a imensa maioria dos blogs. Falo desse moto-continuo de repetição poluidora. Blogs e mais blogs que são o espelho deformado uns dos outros. Um tosco copy-paste. Um “blogo logo blogo”. "

Quando o texto parece que vai entrar numa espiral descendente de detonação, engata uma segunda e traz uma proposição:

"Talvez, no entanto, seja oportuno revelar ou ressaltar a enorme oportunidade que, a livre manifestação, através da blogosfera, suscita. Talvez seja oportuno apelar e dizer que os blogs são, antes de tudo, um fermento do raciocínio e do pensamento, das idéias, dos argumentos, da imaginação, da poesia.

Ao invés de reproduzir ad-perpetum informações, muitas das quais “anonimizadas” voluntariamente, que tal ser mais antropofágico? Digerir antes de copiar. Enfim, usar o cérebro.

Assim, talvez possamos mais frequentemente dizer “penso logo blogo”."


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Coincidentemente (ou não, não sei) o post do Fernand acontece na mesma época em que o Edney do Interney lança o tal do "Blogagem Inédita", que também tem por objetivo incentivar uma blogagem mais pensada e menos regurgitadora.




Tá mas e daí? E daí que é sempre bom a gente lembrar e discutir e conversar e sublinhar que a mera linkagem desenfreada não contribui muito pra melhorar o nível de informação circulante. Quantos blogs têm surgido como um simples depositório de embeds de filmes, músicas ou imagens, com nem mesmo uma linha de comentário particular, um mínimo penso em cima daquilo? Não precisa nem ser um comentário textual. Algumas pessoas editam tão bem suas escolhas que o seu critério já é uma contribuição.

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Infelizmente, reflexão não é algo muito valorizado hoje em dia porque reflexão exige tempo e não podemos perder tempo!!! Rápido, rápido!

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Em outro texto, o Fernand Alphen propôs: Vamos abolir a palavra mídia?
"Um veículo de comunicação não limita mais sua atuação ou se o faz, é uma opção poética. Dizer que O Globo é só papel é ofensa grave, gravíssima. Dizer que a Rede Globo é um entretenimento de sofá, idem. Um anunciante não é um anunciante de TV ou de Jornal. Uma agência -- ainda que persistam as irritantes separações de disciplinas -- não pode ser uma coisa tão pequena, terra de especialistas bitolados e caretas."

São palavras totalmente voltadas ao novo contexto publicitário, total em crise, todo mundo muito louco no momento. Bom, mas o fato é que o texto virou uma discussão sem fim no Blue Bus, o café da esquina do mercado da publicidade. O que é ótimo, porque, como eu disse, não tem muita reflexão no mercado publicitário, essa reflexão mais solta, que você não precise terminar com uma lâmina de power point com o custo final da ação - isso é realmente enlouquecedor pra algumas pessoas.

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Qual é a conexão entre esses dois assuntos? Não sei, acho que precisamos perder mais tempo. Menos referência, mais reflexão. Puxar o freio de mão nunca foi tão necessário.