30 April 2008

Conector entrevista Disc-o-nexo


Esse post é uma falcatrua. O entrevistado é meu amigo. Ele tem uma festa. E eu nunca fui na festa. Mas uma falcatrua legal: o assunto é música boa em uma festa diferente e muitas pessoas que eu conheço foram e deram o aval. Na dúvida, dê uma olhada nas fotos. Aproveita e já olha os flyers.

Enfim. Disc-o-nexo é o nome e o conceito por trás da fritação quinzenal que acontece no Laika em Porto Alegre. Tudo na Disc-o-nexo procura desdizer cada palavra que dizem as outras festas daqui. Começa pelo local, fugindo do clichê da hora que é pegar o circuito Cidade Baixa/Bom Fim. Passa pela música, que transcende gêneros em nome de um eixo dançante e alegre, fugindo do clichê rock e/ou electro e/ou sixties. E termina assumindo a regra "locals only", fugindo do clichê de ficar babando ovo de alguém só porque não é da cidade.

Chaves & Landosystem

Os dois criadores da Disc-o-nexo têm credenciais suficientes para levar a peteca adiante. Landosystem é o nome falso de Renan Schmidt. Renan tem uma folha corrida de serviços prestados à cena eletrônica da cidade, seja como designer (responsável por começar a onda dos flyers decentes e também pela programação visual de algumas casa emblemáticas na cena como o bar Espiral e o club Spin), seja como DJ, seja como grilo falante atuando de forma intensa em conversas com outros DJs, produtores e donos de casas noturnas. O DJ Chaves, além da sua produção própria, comandou o baixo da Groove James, banda de soul/funk ligada a toda uma geração de estudantes de comunicação da PUC e que teve o primeiro disco produzido por ninguém menos que EduK.

Mas isso é passado. Os dois agora só querem saber de fritura e disconexões. Sobre isso, o Renan (com quem, na real, eu até já tive uma banda) falou com o Conector.


Uffie Vs. Disc-o-nexo

Conector: Como surgiu a idéia da festa?
Landosystem: Eu e Chaves já tocávamos há uns 3 anos no circuito eletrônico de Porto Alegre e interior, quando sentimos uma certa limitação diante da generalização e repetição da música que se esperava dessa cena. Por outro lado, a cena rock da cidade, que aqui normalmente é bastante conservadora, teve um pequeno surto de influências dançantes, o que se percebia em festas convergentes como a saudosa O Dia Do Flamingo. Mas, ainda assim, absorvíamos muita música incrível e híbrida que não rolava em nenhuma pista na cidade. Ano passado trocamos umas idéias com o Marcelo do Laika que curtiu a idéia da festa logo de início.

Conector: Me diz uma coisa: pra que produzir festa? Não dá muito trabalho?
Landosystem: É tudo motivado pelo amor à música: escutar coisas emocionantes, vontade de compartilhar essas isso com outras pessoas, dançar e mixar músicas diferentes num alto e bom som na compania dos amigos. Dá um certo trabalho, mas mantendo essas simples motivações em foco, rola uma troca de energia muito bacana.

Conector: Qual a melhor parte de fazer a festa?
Landosystem: Tocar durante os diferentes momentos da noite, e ver a música chegando nas pessoas, se manifestando nas dancinhas e nos sorrisos. Isso, e aumentar o volume.

Conector: E a pior?
Landosystem: Esperar a hora dela começar! Nunca sei o que fazer pra passar o tempo.


tem até gente com bandana moderna

Conector: Por que o conceito de "locals only"? Isso não acaba fechando demais as possibilidades? Não acaba corroborando a idéia de gaúcho bairrista?
Landosystem: Essa idéia surgiu mais como necessidade da situação... nossa festa é pequena, provocante na sonoridade, acontecendo não uma mas duas vezes ao mês, numa cidade pequena como Porto Alegre. Até hoje, tudo que rolou de grana, foi reinvestido na estrutura técnica, surpresinhas para os convidados e alta tecnologia robótica. Somos dois hiperativos em relação à música, querendo repassar muita informação, e desde o início Chaves e eu contamos com apoio integral de amigos, e alguns desses como o Pedro Damasio são DJs com ótimos sons, sacam nossa pilha ainda que mantenham personalidade própria. Então nessa fase inicial acho que ainda temos muito o que aprender entre nós mesmos. Sobre o bairrismo gaúcho, sobre esse assunto o que mais percebo por aqui é pagação de pau só porque tal DJ ou produtor vem de fora do estado. Às vezes isso acaba desviando atenção da responsabilidade e produção dos artistas locais. Quem sabe num futuro próximo poderemos bancar ótimos artistas de fora sem comprometer o desenvolvimento sustentável da festa.


Chaves e o quase residente Damasio

Conector: Rola um intercâmbio com DJs ou produtores de outras festas?
Landosystem: De Porto Alegre? Sim, nós sempre enviamos nossos spams pra eles, e eles nos retornam com o spam deles, sistematicamente tentando copiar o nosso.

Conector: Quem é Robopop? O que ele faz na festa?
Landosystem: Robopop é o domínio do nosso site e também um avatar promocional, era o host inflável da festa mas explodiu. Ele já foi substituido, estamos na terceira geração de upgrades.


guampinhas disconexas

Conector: Os estilos musicais que aparecem na divulgação são bem contemporâneos (nu-disco, nu-rave, discorock, essas coisas). O que vai se fazer quando esses estilos começarem a ser considerados passado, o que pode acontecer a qualquer momento?
Landosystem: Não levamos esses nomes muito a sério, pra nós eles funcionam mais como sinalizadores da nossa ênfase em novidades interessantes, e isso é uma coisa que estaremos sempre afim de manter. Quando começamos a divulgação da festa há um ano, descrevíamos a festa de uma certa forma e no som rolavam várias coisas, hoje em dia tudo isso já mudou muitas vezes e não temos medo de abandonar idéias em favor de outras, ou trocar de nomes. Desde que estejamos nos divertindo no momento, isso é o que nos leva adiante.

Conector: Quem vocês gostariam de trazer se quebrassem a própria regra de "locals only"?
Landosystem: O Laika é compacto, não comporta grandes shows... mas alguns exemplos seriam os curitibanos Bo$$ In Drama que tem um live super animado, e seria uma honra receber os argentinos do The Spirals, adoramos o som deles e ouvimos dizer que ao vivo é incrível.

Conector: Quando vocês vão agilizar isso?
Landosystem: Deve acontece quando pudermos bancar propriamente artistas que consideramos bacanas, mantendo a qualidade de toda estrutura que permite ser divertido tanto pra nós quanto pro público. Não queremos que venham tocar de favor, mas sim quando for viável e relevante pra festa.

sopra, minha filha


Conector: O que vocês fariam diferente nas primeiras festas? O que vocês aprenderam a regular ao longo do tempo?
Landosystem: Aumentaríamos mais o volume! Ter uma residência fixa, nesse formato quinzenal, é um aprendizado incrível em vários aspectos, tu começa a desenvolver sensibilidade sobre a noite como um todo, e não só pela duração de um set.

Conector: Existe door police? Alguém não é bem-vindo?
Landosystem: Não temos door policy até porque nem temos uma hostess ainda... será que alguém se candidata?
Todos são bem-vindos pra fritar com a gente, só não pode ir esperando que os DJs toquem Britney Spears ou algum electrotrash vulgar da hora, a gente sempre vai preferir coisas menos óbvias e mais originais pra sacudir na pista.



Conector: É muito raro uma festa durar muito tempo sem ir minguando aos poucos... não existe muita longevidade nesse negócio. Como vocês pretendem lidar com isso?
Landosystem: Nos concentramos em chegar na semana seguinte, porque no geral não pensamos tão além. Mesmo se pensássemos, teríamos em mente que é tudo sempre ligado à música, e nossa curiosidade afins de coisas divertidas. A festa naturalmente espelha essa característica, e se chegar o momento em que não ela fizer mais sentido, principalmente pra nós mesmos, não vamos hesitar em desfazer tudo pra começar uma história em outro sentido. Ou não.

Conector: Por que vocês sempre fazem a festa quando eu estou viajando?
Landosystem: Que culpa temos nós se tu tem banda, blog, família e emprego? A festa é sempre no primeiro e terceiro sábados do mês, te coordena! :P