28 July 2008

O verdadeiro Cavaleiro das Trevas


Pois então The Dark Knight é tudo isso e um pouco mais. Eu tinha algum receio porque achei uma bomba o Batman Begins, com aquele Batman emo e chormingão. Mas dessa vesz, o diretor Christopher Nolan se redimiu comigo - não que ele se importe tanto com a minha opinião, mas enfim.

Diferente do Batman Begins, The Dark Knight é intenso, pesado e sem uma folguinha. São duas horas e meia de Gotham City indo ladeira abaixo sem espaço pra respirar. E a velocidade na ladeira abaixo, o melhor de tudo, nem sempre se dá por conta de cenas aceleradas ou ação desenfreada, mas devido à lenta degradação da sanidade da cidade imposta por um Coringa determinado a provar suas teses com um pensamento não só cruel mas altamente sofisticado.

Não quero chover no molhado em relação ao filme, por isso, pra não perdermos tempo, vou direto ao ponto que quero destacar e que pouco é destacado: o desejo de anarquia do Coringa é um desejo de ordem muito bem disfarçado.



Conversando com um Harvey Dent à beira da demência, o Coringa larga essa:

"Eu realmente pareço um cara com planos? Você sabe que eu sou só um cachorro perseguindo carros... eu não saberia o que fazer se eu alcançasse o carro. Você sabe... eu só faço as coisas. Planos? A máfia tem planos. A polícia tem planos. Gordon tem planos. Eles são todos schemers (esquematizadores). Sempre tentando controlar seus pequenos mundinhos... eu tento mostrar para os schemers o quão patéticas são suas tentativas de controlar as coisas. (...) Você era um schemer e olha onde isso levou você. (...)"

A empreitada do Coringa, a meu ver, nunca é disseminar o caos, mas fazer valer a sua própria noção de ordem. Durante o filme inteiro (e sua vida nos quadrinhos) o que ele faz é tentar impôr essa noção ao mundo ao seu redor. Não se trata de um anarquista político, mas de um ser que arquiteta meticulosamente formas de exercer seu egoísmo e sua birra em um nível doentio.




A certa altura, Bruce Wayne debate com Alfred as motivações do louquinho, dando a deixa para mais uma tirada do mordomo filósofo: "Algumas pessoas apenas querem ver o circo pegar fogo." Alfred, a meu ver, está errado.

O Coringa não quer ver o circo pegar fogo. O Coringa quer é reproduzir seu circo particular. Seu circo interno já pega fogo o tempo todo. Seu suposto humor esconde um sofrimento constante de uma mente agitada e permanentemente ocupada (o que o Heath Ledger deixou bem claro). E a solução para se acalmar é fazer com que o circo externo seja sincronizado com o circo interno.

Dessa forma, diferente do que parece, o Coringa não é a epítome do mal ou da loucura. É, como muitos falsos rebeldes, a epítome de algo bem mais infantil e precedente ao mal e à loucura: o egoísmo.