Conector em Gotham parte 4
Retomando as coisas que eu ainda tenho a dizer sobre Nova Iorque, me lembrei hoje da visita às lojas do Marc Jacobs. Jacobs é daqueles estilistas que, se você tem um problema com gostar de moda, pode evocar o Sonic Youth pra te dar credibilidade. Afinal o clip de Sugar Kane foi filmado em meio a um desfile de uma coleção do figura, que deu seus primeiros passos de ícone contemporâneo ao desenhar uma coleção "grunge" pra Perry Ellis em 93. Jacobs tem por hábito acompanhar sua vida e sua, por que não dizer, arte, de outros símbolos da cultura pop da hora tipo Michael Stipe, M.IA., o fotógrafo Jurgen Teller, a Chloé Sevigne, entre outros tantos.
Dito isto, eu tinha uma grande curiosidade de conhecer as lojas. Minha mulher me levou primeiro na loja "cara", no Soho, a Marc Jacobs. Assim que eu botei os olhos nas roupas, fiquei realmente impressionado com o desenho de tudo e por força do hábito acabei tendo que explicar pra mim mesmo sob a forma de uma comparação com certas músics do Sonic Youth: uma mistura de dissonância com elegância como poucos podem fazer. Ali na minha frente estava uma combinação do que existe de melhor na moda com um universo de referências de certa forma próximo aos meus... gostos. Simples assim. No fim tudo se resume à montanha de técnica, talento e dedicação que consigam passar pelo estreito funil das suas referências, não é mesmo?
hoje, na real, ele tá com um cabelo mais mauricinho do que esse aí de pediatra indie
Bom, o fato é que um blusãozinho gola V custava tipo 600 dólares então tudo muito bonito de se olhar. Nisso, minha mulher me levou até as outras duas lojas "Marc by Marc Jacobs", onde ele vende coleções mais simples, mais baratas, mas nem um pouco piores do que as que estão nas lojas Marc Jacobs em termos de qualidade e design. Comprei um blaser de reunião (fundamental pra eu sentir que sei do que estou falando no meio de engravatados - ainda não atingi o estágio Carlos Eduardo Miranda) pela metade do preço de um blaser sem graça no Brasil (mesmo pagando em dólar) e na loja feminina havia roupas e acessórios de tudo quanto é preço a partir de 3 dólares.
O que me fez pensar em como é interessante esse sistema de democracia pelo consumo: você pode ser um pé rapado e ter apenas 25 dólares na carteira, mas você vai sair da loja do cara com qualquer treco dele, com o design e a qualidade dele. Duas coisas me chamam a atenção nisso. A primeira, que eu acho muito legal, é um certo tom anti-exclusivista (todo mundo pode ter algo do Marc Jacobs, ainda que seja da segunda marca, algo pouco dissemindo no Brasil ainda). A segunda, menos benéfica, é que isso em grande escala ajuda bastante a construir um país consumista e poluente.
Por outro lado, minha fascinação pela obra do Marc Jacobs esbarrou um pouco no documentário que eu vi sobre o trabalho do cara à frente da Louis Vuitton. Não há nada de errado no filme, é fascinante porque mostra o trabalho de alguém realmente excepcional, um cara que parece simplesmente trabalhar muito e, se tem chiliques, deixaram de fora da edição. Mas ao mesmo tempo, um clima meio triste permeia a história. Uma espécie de nuvem densa que eu não sei explicar muito bem. É muito comum eu ficar entusiasmado quando vejo esse tipo de documentário e me sentir compelido a seguir o exemplo desse tipo de artista (embora nem sempre eu considere esse um caminho válido pra minha vida). Mas dessa vez foi diferente, havia um tom de solidão e melancolia. O cara não parava de comer umas barras de proteína meio sinistras... aquela magreza meio cadavérica... pode ser total viagem minha, pode ser o momento em que eu assisti, não conheço a biografia dele a fundo. Mas fiquei com um pé atrás.
De todo modo, se você tiver a oportunidade, vale a pena ver um grande designer trabalhando. Sempre se tira alguma coisa, nénão?