12 January 2006

Nizan Guanaes

Pra os não-publicitários que lêem o blog, um rápido apanhado: o Nizan Guanaes é um trator. Redator fodão, intenso e apaixonado nos anos 80, despontou rapidamente no cenário publicitário e em poucos anos comprou a agência em que começou a trabalhar. De redator passou a dono, fez da DM9 uma das maiores agências do mundo, fundou uma holding junto com um banco, vendeu parte de sua agência pra uma rede internacional, migrou para o mundo da web, inaugurou a era da internet grátis e voltou triunfalmente à propaganda montando uma agência de luxo atendendo clientes como Itaú, Assolan, Nívea e Vivo. Ele é conhecido como workaholic inverterado e não são poucas as histórias que circulam no mercado do excesso de trabalho a que ele submete seus criadores, com relatos beirando ao doentio. Ah: foi ele também que fez o Zeca Pagodinho mudar para a Brahma no meio do contrato com a Nova Schin, um lance anti-ético usando um jingle com uma letra maravilhosa. Ou seja, uma figura controversa com o dedo no pulso do brasileiro, cujas entrevistas valem ler. A Revista Raça deste mês traz uma e eu fiz uma rápida seleção de momentos interessantes.

Sobre os negros na propaganda.
"Modelos negros hoje estão muito mais atrelados à sofisticação, à chiqueria, à bacaneza. Repare que a presença do negro na publicidade de telefonia móvel é fortíssima, porque ele é associado à atitude, à transgressão. É mais fácil você ver um comercial de um negro tomando um uísque ou num avião do que uma família negra vendendo um produto de marca- padrão. O negro é mais visto como sofisticado do que como membro de uma família comum."

Falando sobre o comercial da Assonal que trazia bebês com cabelo de palha de aço:
"Você acha que um produto de natureza eminentemente popular quer ofender uma população tão significativa? Não há punição maior para um publicitário do que ficar mal com a população. Além do mais, minha agência se chama África, meu cabelo é todo enrolado e eu sou da Bahia. Fizemos todo tipo de pesquisa e vimos que o comercial não estava sendo entendido assim pelas pessoas. Ele foi até escolhido como o preferido da população. Era uma brincadeira, como a do sabão em pó Assim, que mostrava as crianças com o mesmo tipo de cabelo, só que de espuma. Então eu pensei: não estou ofendendo ninguém e não vou tirar do ar. E vamos às instâncias competentes. Tem horas em que é preciso dar uma peitada, porque senão é fácil ceder. Tem gente que quer agora que os comerciais das lanchonetes não vendam lanches e que os de brinquedos não vendam brinquedos. Há gente querendo um papel que a propaganda não vai ter."

Sobre a polêmica do Zeca Pagodinho quebrando o contrato com a Nova Schin e passando à Brahma.
"Eu tenho vinte anos de propaganda só em São Paulo. Fiz o comercial do Hitler [para a Folha de S.Paulo], eleito o melhor do século. Eu fiz outros de enorme sucesso, como o da pipoca com guaraná. Ganhei mais de sessenta leões [troféu internacional] e levei duas vezes o Grand Prix de Cannes [prêmio máximo da propaganda mundial]. Sou um dos redatores mais premiados do país, mesmo sem competir há cinco anos. É uma história de muitos gols, de artilharia. Mas toda história de artilheiro tem uma falta, um pênalti. O Pelé teve, o Ronaldinho teve, eu também tive, e esse foi o meu pênalti."

Sobre propaganda política.
A maior lição é que tenho que investir na iniciativa privada, por um motivo muito simples: a política é polarizante. Não é possível estar num negócio em que a cada momento você tem que brigar com um partido. Eu não quero brigar nem com o PT nem com o PSDB. Sou um empresário. Tenho muitos anunciantes, diversas contas e um monte de empregados. Eu não quero me posicionar.Quem tem que se posicionar são os políticos. O marketing político é uma atividade que não é viável se você tem, como eu, várias agências. Em resumo, o que eu aprendi na política é que eu gosto muito da iniciativa privada.