Rolling Stone rebola para falar de rock na China
March 15, 2006 4:05 a.m.
Por Geoffrey A. Fowler
The Wall Street Journal
HONG KONG - Sexo, drogas e rock-n'-roll sempre foram assuntos férteis para a revista Rolling Stone. Mas Hao Fang, editor da nova edição chinesa, não pode publicar muita coisa sobre os dois primeiros. E na China, até rock pode ser politicamente espinhoso, como demonstra a capa da primeira edição.
Hao escolheu para ilustrar a capa inaugural uma imagem de Cui Jian, um dos primeiros músicos chineses a incorporar rock ocidental em suas composições e dono de um talento à la Bob Dylan para fazer letras com múltiplos sentidos. A música mais famosa de Cui tornou-se um hino dos estudantes nos protestos pela democracia na Praça da Paz Celestial, em 1989, embora não mencione revolução ou protesto. Depois da repressão militar, Cui algumas vezes foi tratado como dissidente e ficou por baixo por muitos anos.
Apesar desse histórico, o artigo da Rolling Stone evitou menções à Praça da Paz Celestial ou qualquer coisa política. "É claro que ele foi uma pessoa polêmica", diz Hao, de 42 anos. "Mas, por enquanto, não é interessante para a mídia nem para ele" falar sobre essa parte de seu passado.
O lançamento da Rolling Stone na China este mês demonstra as possibilidades - e dificuldades - do jornalismo em um dos mercados de comunicação mais censurados do mundo. Por meio de ensaios culturais e perfis de estrelas do rock, Hao e seus patrões - uma editora estatal de música e uma empresa de Hong Kong que adquiriu a licença do título da Wenner Media - têm de agradar a dois senhores cada vez mais opostos: leitores em busca de conteúdo mais ousado e o Partido Comunista, que quer combater dissidentes.
Os editores da Rolling Stone nos EUA criam o conteúdo internacional para a edição chinesa e o conferem com a equipe de Hao. Mas, como todos os periódicos chineses, a Rolling Stone é tecnicamente publicada por uma organização patrocinada pelo governo, ou "zhuguan danwei". No caso, a editora estatal de música China Record Corp.
Em vez de aparecerem com uma caneta vermelha, os funcionários da propaganda chinesa normalmente deixam que os editores censurem as publicações por conta própria, com base numa crescente coleção de comunicados governamentais.