22 May 2006

:-)

"Minha preocupação era segurar a mão de meu filho e esperar que seus olhos se abrissem. Enquanto isso tirava fotos para que ele soubesse como era quando nasceu. Até que depois de uma boa meia hora ele abriu os olhos. Abriu os olhos, ainda meio grudentos, e olhou o mundo exterior pela primeira vez. Pela primeira vez olhou nos meus olhos. Pela primeira vez olhou o mundo através dos meus olhos. Nos meus olhos viu toda a minha vida passada e eu vi todo o seu futuro. Todos os seus sonhos. Todas as frustrações. Todas as suas paixões. Toda a sua felicidade e toda a sua tristeza. Nesse momento eu vi que não existiria fralda que eu não trocasse, noite que eu não dormisse ou vida. que eu não vivesse para que meu filho algum dia sentisse o que eu sentia naquele momento. E por incrível que possa parecer, não chorei. Não balbuciei. Não pensei. Uma imensa, gigantesca, infinita paz tomou conta do meu corpo e do meu espírito. Uma paz que nem todas as cervejas do mundo poderiam aplacar. Que nem todas as viagens poderiam desacelerar. Naquele momento fui feliz. E, vocês deveriam saber, a felicidade é um sentimento atemporal. Uma vez que se atinge o ápice da felicidade, toda a dor e tristeza que possam surgir não passam de morfina da alegria. A felicidade é como um vinho que nunca sai do sangue. Como se eu estivesse de novo, solitário, bêbado, dirigindo por uma Porto Alegre vazia e chorando de felicidade por existir e viver aquele momento e estar escutando Ziggy Stardust e exercendo minha liberdade individualista.

Agradeço à Betine que durante quase 37 semanas carregou este pequeno ser chamado Lorenzo. Sentimento que jamais sentirei, jamais viverei, jamais conhecerei. Fui apenas um espectador desse espetáculo do qual apenas participei do projeto, mas não da execução.

E agora que já escrevi livros e tive um filho, prometo, não plantarei árvores. Vai que dão minha missão por cumprida, não é?"

Que que vai se dizer numa hora dessas né?