Vivendo
Por uma conjunção de disco decente + bom trabalho da gravadora, nos últimos tempos ando dando muita entrevista. Tipo, não que nem rockstar que fica um dia inteiro no hotel só recebendo jornalista, mas algo além do normal para os meus padrões pessoais.
Isso é outro sinal dos tempos que estamos vivendo: se você parar pra pensar, até há BEM pouco tempo atrás só quem dava entrevista era FAMOSO ou POPULAR (aquelas entrevistas de rua no telejornal).
Basicamente eu gosto de dar entrevista, sou meio matraca e falar as coisas ajuda a concatenar os pensamentos. Várias vezes eu falo coisas que não tinha pensado, pedaços de raciocínio que estavam soltos e são costurados pra preencher alguma lacuna naquele momento específico.
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Uma coisa curiosa é que andam nos perguntando direto "VOCÊS VIVEM DA BANDA?". A resposta lógica é não, porque apesar de não termos do que reclamar da nossa condição, os ganhos também não são o suficiente pra sustentar uma casa, etc. Agora eu sempre sou tentado a responder que sim, eu vivo da banda. A quantidade de coisas que se aprende e se vê viajando, tocando, trocando idéia, conhecendo gente, são todas coisas que de um jeio ou de outro acabam revertendo em algum tipo de remuneração, direta ou indiretamente. Entendeu? Pensa um pouco que vale a pena... viajando de uma cidade pra outra, conhecendo os "malucos" de cada local, as pessoas que fazem as coisas no peito e na raça por motivações não lá muito convencionais... se aprende muito sobre o seu país e as pessoas vendo tudo isso.
Cada cidade é um pequeno curso sobre vários aspectos geográficos e humanos do Brasil. Nem sempre são aulas exatas e claras... mas quando eu olho pra trás e vejo os últimos 3 dias, percebo que tem uma quantidade considerável de informação no meu cérebro. Algumas que eu nem sei se vou conseguir acessar racionalmente.
No meio disso tudo, só uma certeza se cristaliza cada vez mais: estamos vivendo uma era triste em muitos aspectos mas também afortunada em outros. Culturalmente podemos estar vivendo o ápice da indústria comercial e do consumismo. Mas também toda saturação leva à criação de caminhos novos. Enxergando através da água que deixa metade do copo cheio, dá pra ver com nitidez que as iniciativas individuais estão sendo cada vez mais valorizadas - e a refração na imagem não deixa mentir. A única diferença é que a moeda de valorização é outra. Em vez de atenção uniforme e unidirecionamento, redes de contato, de amizades, redes de atenção descentralizada.
Se é q vc me entende.