14 October 2006

Brazil Banana Samba

Vou insistir um pouco mais em escrever sobre a Banana Yoshimoto porque reler Kitchen realmente me deixou com um monte de pulgas atrás das orelhas. Não é nem bem pulgas, mas uma sensação boa, uma espécie de ressaca boa. Quanto termino de ler um longo trecho de alguma história dela, eu sinto algo bem parecido com o que senti quando fiz uma endoscopia no ano passado e me deram alguma boleta muito forte. Eu nunca mais vou esquecer essa sensação, provavelmente foi uma das melhores experiências com drogas que tive (sem drogas é outro papo): depois de acordar do exame, eu passei umas duas ou três horas SEM tagarelice mental, numa espécie de bem-estar não-eufórico, um bem estar relaxado. O problema é que termina, né.

Mas voltando à Banana. Depois de escrever o post abaixo eu resolvi dar uma pesquisada porque minha ligação com ela vem de ANTES de ter intenet e eu NUNCA tinha me ligado de procurar entrevistas ou um site dela. EU tinha uma vaga idéia de que ela era famosa no Japão, mas descobri que ela é REALMENTE famosa lá, um fenômeno, best-seller total. Também descobri que a despeito das boas críticas impressas na orelha de Kitchen, parece que ela é considerada pela crítica uma escritora menor. Pensei que talvez eu esteja lendo uma espécie de Paulo Coelho japonês. Ou não. Talvez uma Fernanda Young. Hm... enfim. Selecionei uns trechos.

Gosto de pequenas observações cotidianas como essa:

"Quando saí já era noite.

O céu começava a escurecer. O vento começara a soprar e estava meio frio. Enquanto esperava o ônibus, o vento levantava meu sobretudo leve.

Era lindo ver as filas de janelas no alto o edifício na frente do ponto do ônibus, suspensas na luz azul. As pessoa que trabalhavam lá e os elevadores subindo e descendo brilhavam em silêncio como se estivessem a ponto de se dissolver no escuro."


Um dos hábitos que eu mais gosto à noite é olhar da rua os apartamentos ou os escritórios. Não é algo que eu SAIA pra fazer intencionalmente, mas seguido presto atenção quando estou parado na sinaleira ou então se estou esperando alguém.

Outro trecho. Eu acho de uma humanidade linda isso:

"A calma angustiante que reina nos canto das salas como uma ameaça, e o vazio impreenchível de uma casa onde vivem uma pessoa velha e uma criança, mesmo que a harmonia entre elas seja perfeita, são coisas que ninguém jamais me ensinou, mas que muito cedo compreendi sozinha."

E isso aqui me lembra alguns filmes de terror japonês. Essa coisa da morte permanecer imantada no local onde alguém partiu.

"O sinal mudou e a onda de luz formada pelos carros enfrentou o cruzamento. O sinal luminoso balançava no escuro. Hitoshi tinha morrido ali. Uma sensação solene insinuou-se em mim. No lugar onde morreu alguém que a gente amava, o tempo pára por toda a eternidade. A gente se perguntava "Se eu ficar parado aqui onde tudo aconteceu será que eu posso entender seu sofrimento?" Dizem que a ao visitar ccastelos ou lugares históricos, podemos sentir a presença de quem vivia lá. Eu sempre pensava "Que bobagem!", Mas agora eu achava que entendia."


Falando em filme de terror, ela cita numa entrevista o Dario Argento como um dos cineastas prediletos dela. E na música, John Frusciante. Tu vê.