07 February 2007

Desenhos



A imagem acima é um still do vídeo "Prehistoria" do artista mexicano Gabriel Acerdo Velarde, parte da exposição "Adquisiciones, donaciones y comodatos" que recém vimos no Malba. "Prehistoria" é um tapa na cara que fica fermentando durante dias, trinta minutos de traços básicos, fita durex, trilha composta com ruídos minimalistas feitos com a boca, tudo para ressaltar uma história recheada de significados amplos e universais que toca fundo no vivente.

O storyline básico é a luta de uma vítima da queda de um avião tentando sobreviver em uma cordilheira inóspita. Durante sua busca por alimento e socorro, ele descobre que seus fluídos corporais (esperma e vômito, mais especificamente) dão origem a outras pessoas quando em contato com a terra. A relação entre eles e essas pessoas é confusa: elas servem de alimento, servem de companhia, servem de espelho moral. Elas se comem entre si (do ponto de vista alimentício e sexual). Elas são crianças? São seus filhos? Morte e gênese, moral, desespero e limites. Vem tudo à cabeça. É uma grande doença, uma obra superforte que precisa só de meia dúzia de traços pra fazer sentido e te fazer buscar sentido.

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Essa a gente viu no Centro Cultural da Recoleta: coletânea de trabalhos do Max Cachimba. Mais um cartunista louco? O Takeda me contou que ele mora em Rosário é extremamente recluso, que tentou fazer contato com o cara para um trabalho pra Fox. Mas ele não olha emails nem atende telefonemas, apenas recebe recados através de outros cartunistas. Enfim. Cachimba nasceu como fruto da cena da revista Fierro, foi dono de uma tira chamada Humor Idiota, é artista gráfico com toda aquela carga de realidade mágica que parece caracterizar uma boa parte dos cartunistas argentinos. Não que eu conheça muitos.




Comprei um livretinho do Cachimba com uma coletânea do Humor Idiota e não é idiota. Idiota somos nós que perdemos a visão lúdica da vida aos poucos.

Pra conhecer um pouco melhor o Cachimba, vai aqui.

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E já que estamos nessa de cartunistas e desenhos... essas imagens, acima e abaixo, são de uma parede da Boutique del Libro em Palermo. Desenhos do Fontanarosa e do Liniers direto na parede. Tem também da Maitena e de outros cartunistas que eu não conheço. Além de simpática livraria, ainda é um café e uma loja de CDs coordenada pelo pessoal da revista Les Inrockuptibles.



Confesso, no entanto, que meio que perdi a paciência pra livrarias. Já tive mais mentalidade de colecionador, ficar procurando coisas. Mas hoje não tenho mais paciência pra procurar nada. Por essas e por outras é que achei a Grand Ateneo um lugar realmente de tirar o fôlego, mas não muito atraente pra comprar alguma coisa: linda, porém muito descomunal. Pra que tudo isso?