23 April 2007

Piscadela

Krusty


A figuraça aí de cima é Malcom Gladwell, ensaísta americano dono de dois títulos bastante incensados no meio empresarial e de comunicação: Tipping Point e Blink.

Bom, O Tipping Point é o mais comentado porque parte da concepção biológica de epidemia pra explicar coisas que começam a se espalhar por aí, como filmes que não são promovidos e são falados e vistos por todo mundo, só pra dar um exemplo mais clássico. É o famoso BUZZ.

Mas o Blink é outro negócio. Sabe quando você dá de cara com alguma pessoa e antes mesmo de conhecê-la mais a fundo já sente um NEGÓCIO que estabelece sua comunicação com ela? Segundo Gladwell, nesses primeiros segundos o cérebro calcula toda a situação e absorve informações cruciais e suficientes para uma EXCELENTE avaliação. E excesso de informação depois disso até pode atrapalhar julgamentos mais acurados.

Não se trata de largar de mão a verificação exaustiva por dados, mas o fato é que muitas vezes essa cognição rápida e inconsciente é desprezada em favor de dados frios que em vez de ajudar a garantir um sucesso só estabelecem as bases de um fracasso. Foi assim com o lançamento da New Coke, foi assim com a compra errada de uma estátua falsificada pelo Getty Museum de Nova Iorque, foi assim com uma cadeira que hoje é um sucesso de vendas mas que quase não foi lançada porque os consumidores que embasavam a pesquisa de mercado marcavam "feia" quando sua cognição rápida queria dizer "diferente".

Todo mundo tem essa "cognição rápida", mas só os especialistas em determinados assuntos sabem utilizá-la deliberadamente. Técnicos de futebol não precisam assistir a dezenas de jogos pra verificar a habilidade de um jogador. Às vezes com duas ou três jogadas já é possível determinar todo o padrão de jogo do atleta. Gladwell chama isso de "fatiar fino" e vai atrás de um cara que pesquisa casais para embasar sua tese. O pesquisador em questão (esqueci o nome) aprendeu a "fatiar fino" os primeiros minutos dos diálogos de casais e a descobrir se eles vão se separar nos próximos anos.

O livro é excelente. Recheado de exemplos, escrito de uma forma fluída, como uma grande reportagem (Gladwell escrevia/escreve pra The New Yorker) e termina praticamente como um thriller de ação a dedicar o capítulo final a estudos de expressão de emoção na face ilustrados com histórias de policiais que meterm os pés pelas mãos a não saber ler uma situação com rapidez.

Duas anotações mentais.

1) Uma pena que é só um livro. Fosse transformado em método e ensinado, talvez o conhecimento que o Gladwell reuniu pudesse ser útil pra muita gente. Se ele fosse um picareta, já estaria fazendo uns workshops. Bom... peraê... melhor deixar quieto. E tem mais... nem conheço a fundo o trabalho do cara. Nem sei se ele não é um picareta mesmo. Pesquisarei.

2) O texto de promoção na orelha e contracapa da edição brasileira tentam vender o livro como um best-seller de administração. Aquela coisa de "o livro sobre decisões que virou coqueluche entre empresários". Não é bem assim. Faz parecer um livro trouxa e não é. E tem outra: só ler esse livro não vai adiantar muita coisa. Quem vai te treinar pra "fatiar fino"? Fatiar fino ajuda mesmo a melhorar a vida de alguém como prega a contracapa? Aí já entramos no terreno da auto-ajuda barata... câmbio desligo...

* PS: valeu Takeda por emprestar. E Will por insistir na leitura.