11 April 2007

Talkin'bout ma generation

"Como não tínhamos dinheiro pra pintar todo o bar, ela fez uns desenhos nas paredes, inspirados na Garagem Hermética do Moebius: o Major Fatal, personagem principal da história, entrando e saindo de portas rabiscadas na tinta branca suja. Na sala onde ficaria o bar, enchemos as paredes com dezenas de páginas de histórias em quadrinhos. A mesma coisa foi feita no hall de entrada, onde as folhas cobriram o teto. Um amigo nos deu um pôster com o rostão do Picasso com uns olhos penetrantes de artista excêntrico que colamos sobre as páginas de revista. Bem em cima da porta do hall, e o Picasso ficava lá em cima, como um vigia, cuidando todo mundo que entrava. A iluminação era composta por umas sete lâmpadas azuis espalhadas em cantos estratégicos, três canhões de luz com filtro vermelho no palco e só. No banheiro, colocamos um compensado com a mesma pintura Pollock-chinelona sobre a banheira (que acabaria virando um gigantesco e nojento mictório) e, antecipando o que ocorreria de maneira inevitável, pichamos todas as paredes com manchas, borrões, desenhos obscenos e frases de desordem (lembro duma: “free your mind and your ass will follow”, que alguém escreveu embaixo: “bando de viados”), resumindo: um banheiro muito jovem."


Toda cena precisa de algo para orbitar ao redor. Pode ser um selo ou uma banda. Mas o ideal e o que sempre mais pega é um LUGAR. Os anos 90 em Porto Alegre tiveram o Garagem Hermética, o nascedouro não só de toda uma geração musical (Walverdes incluso) mas também o imã que atraiu uma geração inteira de slackers & hiperativos culturais que sobreviveram anos à base de Nevermind, Check Your Head e Dirty.

O Léo Felipe foi um dos donos do Garagem e tá contando a sua versão da história que tu pode acompanhar pelo blog dele, o Foguete Formidável. Dá uma procurada nos arquivos de março que é onde começa a história. Um documento fundamental.

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Eu tenho meia dúzia de história sobre o Garagem também. Um dia eu conto. A outra meia dúzia, vou ter que incorrer no clichê mais surrado do mundo, eu realmente não me lembro.