30 May 2007

Telefone pra vc



O verão é uma estação mágica. Ainda mais em Porto Alegre. As temperaturas insanas beirandos os 40 graus têm seu efeito amplificado pelo fato da cidade estar guardada em um acidente geográfico chamado Depressão Central e a capital gaúcha se transforma em um verdadeiro forno úmido, o que oferece a seus habitantes duas opções: fugir para a praia (leia-se Santa Catarina) ou então começar a conviver com pequenos delírios.

Carregados foi isso. Uma sucessão de pequenos delírio em tardes calorentas de Porto Alegre, delírios sob a forma de jam sessions de um trio que tocava Rebirth, guitarra e bongôs, num clima de absoluta liberdade musical inspirada na acid house.

As sessões no Ablue Corner Studio (também conhecido como cobertura do Renan) deram origem a dez músicas registradas no mesmo porta-estúdio de cassete Fostex que foi utilizado para gravar o primeiro disco da Comunidade Nin-jitsu, demos de um disco da Ultramen e o CD de reggae dos Walverdes.

Essas dez músicas circularam por aí no CD caseiro Sistema de Som. Dessas dez, uma música bateu forte em algumas pessoas (entre elas, o DJ Renato Lopes, que a selecionou para o projeto Lucky Strike Labs). "Telefone" não tocou em rádios, foi ouvida em pouquíssimas festas por quase ninguém. Mesmo assim, tosca, grooventa e irresistível, conseguiu unir a cena eletrônica de Porto Alegre de um jeito como nunca tinha acontecido antes e nem vai acontecer de novo. Só mesmo os Carregados para juntar num mesmo CD remixes de tanta gente diferente e que, apesar de morar na mesma cidade e frequentar os mesmos lugares, raramente se conversou musicalmente.

Telefone Remixes é isso. A música de uma banda que mal existiu fazendo a conexão entre nomes extremamente representativos da música eletrônica gaúcha no período em que ela estava mais fervilhante (2003-204). Tecno, house, drum'n'bass, dub, hoje em dia é natural estilos conviverem, mas há alguns anos as barreiras eram maiores e era mais difícil colocar tudo isso em uma única festa ou num único disco.

O espírito da acid house, inclusivo, aberto, divertido e festeiro é como o punk. Nunca morre. E se morrer, não tem problema. Sempre vai ter um grupo de caras que prefere se divertir em vez de fazer cara de enterro, tocar em vez de teorizar e dançar em vez de ficar de braços cruzados reclamando da vida.