Conector entrevista Jonathan Harris - parte 2
Jonathan Harris nasceu e cresceu na bucólica Shelburne, rodeado pelas Green Mountains e pelo Champlain Lake, encantadores acidentes geográficos que ajudam o estado de Vermont a fazer fronteira com o Canadá. Mesmo saindo de lá e passando anos estudando ciência da computação na Universidade de Princeton, Harris sempre se viu mais como um contador de histórias e um artista do que propriamente como um técnico. Na sua busca por narrar, desenvolveu websites mais humanos para setores da universidade, uma mitologia para a marca de roupas Distilled Spirit e uma revista universitária que misturava turismo com arte e literatura, combatendo a xenofobia que se instalou nos Estados Unidos após o 11 de setembro. Harris também nunca parou de tentar fazer com que interfaces gráficas amigáveis e coleta de dados convivessem harmoniosamente, tanto em projetos comerciais (Daylife.com) quanto puramente investigativos
Conector: Geralmente quem trabalha com padrões e dados são pessoas que não têm um interesse na interface visual. Padrões são geralmente estudados mais em disciplinas matemáticas. Mas o seu trabalho é mais visual. Como você relaciona a visão mais humana, intuitiva e visual com os padrões matemáticos?
Harris: A representação visual permite que os padrões sejam compreendidos por mais gente. Eu estou interessado em comunicar idéias da forma mais simples, lúdica e clara possível. Assim mais gente se interessa por essas idéias.
Conector: Enquanto eu navegava nos seus projetos, eu tive a sensação de que as pessoas precisam se educar no seu sistema para realmente se conectar com seu trabalho. Quero dizer que não basta sair clicando por alguns segundos, abrindo páginas e escaneando o conteúdo com os olhos. É preciso ler os manifestos, entender o que está por trás e se acostumar com a ferramenta. É quase como se a pessoa tivesse que imitar o seu jeito de pensar. Por que isso?
Harris: As pessoas desenvolveram um tempo de atenção muito curto na internet, então geralmente elas esperam tirar conclusões a respeito do que elas vêem em poucos segundos. Mas meu trabalho não se parece com nada que elas viram antes, então leva algum tempo até você se orientar. Isso é normal. Eu luto para produzir trabalhos que são, como diz Golan Levin, "instantâneos no reconhecimento e infinitos no potencial de maestria". Por exemplo, o piano e o pincel: são ferramentas que uma criança pode pegar e usar, mas que um virtuose vai passar sua vida inteira tentando dominar. Além disso, eu não quero que meus trabalhos recebam a mesma atenção superficial que recebe um vídeo no You Tube. Eles demandam mais de quem entra em contato com eles, mas por outro lado também oferecem muito mais. Há muitas sutilezas, muitas camadas, há reentrâncias e fissuras a serem exploradas.
Conector: Como você separa seu trabalho comercial do trabalho comercial? Um alimenta o outro? Como funciona?
Harris: Eu tenho tido bastante sorte nisso... tenho sido pago para desenvolver trabalhos como Yahoo Time Capsule, Phylotaxis e Daylife que exploram as mesmas questões do meu trabalho mais pessoal. Tenho conseguido andar sempre na mesma direção, seja por amor ou por dinheiro.
Conector: Onde você costuma trabalhar?
Harris: A maior parte do meu processo criativo acontece em parques, caminhadas, cafés, restaurantes, observando pessoas, ouvindo pessoas. Primeiro eu desenvolvo minhas idéias no papel e só sento no computador quando estou certo do que eu quero fazer. Eu acho difícil pensar criativamente direto no computador.
Conector: Quem inspirou e quem ainda inspira você?
Harris: Bob Dylan, Tibor Kalman, Hayao Miyazaki
Conector: Eu vi que você já viajou bastante. Em que cidade você adoraria viver?
Harris: Eu sou um garoto do campo. Eu vivo em Nova Iorque agora, mas nasci em Vermont e espero me mudar de volta pra lá algum dia. Eu também adoraria morar numa casinha no morro no sul da França, com uma esposa maravilhosa (ainda estou à procura!), onde a gente pode trabalhar todos os dias, cozinhar toda noite e conversar sobre tudo bebendo um bom vinho tinto.
Conector: Por que você se considera um "contador de histórias"?
Harris: Histórias são, em última instância, sobre ajudar as pessoas a enxergar suas similaridades em vez das diferenças. E meus trabalhos tentam ilustrar as similaridades que existem no mundo - todos nós amamos ou ficamos tristes de vez em quando, todos acreditamos em alguma coisa. Quando as pessoas começam a pensar dessa forma sobre seus vizinhos do outro lado da rua e do outro lado do mundo, o sentimento de "estrangeiro" se dissipa e um âmbito comum emerge. E eu acho que esse âmbito comum, que se alcança contando histórias, é a melhor esperança que temos para o futuro.