Notas para uma pedagogia visual bem-humorada
1. é natural que utilizemos obras de arte para o exercício de nossa
desconfiança. cultivar suspeitas pode nos salvar das verdades.
2. não se deixe enganar por tentativas de explicação de obras de
arte; na maioria dos casos elas são desmentidas pelas obras mesmas.
3. não confie na autonomia "soberana" das obras de arte, pois elas
dependem do desconhecido que as tornou possíveis.
4. acredite nas dúvidas, especialmente naquelas sugeridas pelas
obras; algumas delas são necessárias para a superação de nosssas
limitações.
5. procure ver somente o necessário. a quantidade indiscriminada das
coisas visíveis pode reduzir em muito a qualidade das experiências.
6. não espere ver o que esperava antes de conhecer. só as obras de
arte de qualidade duvidosa atendem a esta expectativa.
7. não confie em artistas que parecem querer chamar a atenção com
artimanhas e "técnicas mirabolantes". estes bajuladores de público
estão interessados apenas em mídia.
8. se um objeto artístico não parece ser arte, não o discrimine
automaticamente. só falsificadores estão preocupados em fazer algo
que se "pareça com arte". artistas, por outro lado, se preocupam em
fazer apenas o que deve ser feito.
9. considere sobretudo o "teor de evidência" de um objeto. por mais
completa que uma obra de arte possa parecer, elas será sempre
insuficiente em relação àquilo que desconhecemos. se for uma obra-
prima, superará até mesmo o desconhecido.
10. a espontaneidade não é um valor. é uma partida ou uma chegada. a
simplicidade ou a complexidade ocorrerão apesar dela.
11. não pergunte o que os artistas querem dizer com suas obras.
pergunte às obras. ou encontre a satisfação nos riscos que estimulam
sua curiosidade.
12. a transcendência e o sorriso são invenções humanas. um outro lado
do ar é a contribuição dos artistas.
- waltercio caldas. 6ª bienal do mercosul.
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Meu amigo Sapo me mandou. Tá num painel da Bienal do Mercosul. Domingo dei um pulo lá. Não vi esse texto, mas vi coisas. Coisas legais. Ainda falarei aqui do William Kenthridge e do Francys Ally. Aguardai.
As imagens do post são da obra do tal Waltercio cuja obra, confesso, nunca vi mais gorda.