24 October 2007

O mundo é de quem faz ou de quem não faz?


O IG anda bastante saidinho, cheio de comerciais, salamaleques e invencionices pra vender seu conceito, que dá nome ao post. Apesar de não curtir os comerciais (essa coisa manifesto já deu, né) e de admirar o esforço da agência em criar alternativas pra correr atrás da máquina do tal do conteúdo gerado pelo consumidor, eu comecei a sentir uma coceira do tipo "não tá certo esse lance de o mundo é de quem faz"... não é bem assim... o mundo tá cheio de gente interessante que não faz coisas e talvez em muitos casos não fazer seja mais relevante do que propriamente fazer.

Eu não sou, estabeleça-se, a pessoa mais indicada pra levantar qualquer bandeira de que o mundo é de quem não faz porque eu vivo fazendo coisas. Tantas coisas que nos últimos meses comecei a pesquisar alguns sistemas de organização tipo o famoso "Getting Things Done" ou GTD do tal do David Allen.



Navegando por blogs a respeito do assunto, acabei conhecendo por alto toda a cultura do LifeHacking, uma espécie de comunidade mundial de gente que troca informações a respeito de eficiência em tarefas cotidianas de modo que sobre mais tempo pra vida pessoal. O termo lifehacking vem de atalhos que os programadores usam pra facilitar sua vida de escritores de códigos. Mas acabou se tornando uma subcultura própria.

É um assunto que eu achei fascinante e assustador, acabei escrevendo uma coluna pra Mais Soma que deve sair mais pro final do ano. Quando sair eu coloco aqui. Aliás, eu tou pra colocar a coluna da edição impressa atual, mas eu perdi o texto, não sei onde coloquei.





Há pouco rolou uma grande matéria na Wired a respeito do criador do GTD (em inglês). Eu na minha cabecinha oca achava que o Allen era tipo um cara oriundo (adoro essa palavra) do meio corporativo, uma história repleta de sucessos gravados em ouro a ferro e fogo no Power Point. Contudo, entretanto, todavia, ocorre que o cara é o maior gonzo, passou uma parte da vida se detonando, foi parar na heroína e de lá num hospital psiquiátrico. Ou seja, ziguezagueou intensamente antes de se encontrar na vida por intermédio de um guru new age que no meio dos anos 80 estava metido num programa de auto-aprimoramento pra gente corporativa, uma mania na época.

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RESUMO DA ÓPERA.

É como um grande mashup de Um Estranho no Ninho com O Aprendiz.


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No Brasil, um dos sites dedicados a esse lance todo de culto da hiper-eficiência, como chama a Wired, é o Efetividade, de onde eu tirei essa frase ótima: "As coisas estão sempre tramando contra a sua organização doméstica e pessoal." Sério, eu gostei dessa frase. As coisas não são fáceis!





Tá mas, afinal, o mundo é ou não é de quem faz? Se é pra responder, adorei esse texto, que recebi numa lista de emails e que originalmente saiu num livro do Chogyam Trungpa Rinpoche.

"Podemos realmente sentar numa almofada sem finalidade alguma, sem qualquer objetivo. É ultrajante. É impensável. É terrível -- estaríamos desperdiçando nosso tempo. Agora, este é o ponto: desperdiçar nosso tempo. Talvez seja algo a se pensar: desperdiçar nosso tempo. Dar um descanso ao tempo. Deixar que ele se desperdice. Criar tempo virgem, tempo não contaminado, tempo que não foi importunado pela agressão, paixão e velocidade. Que criemos tempo puro. Sentemos e criemos tempo puro."

Pois é. Por aqui, segue-se tentando.