"Paulatina", nem me lembrava mais dessa palavra...
É um momento simbólico na minha vida, nada que mereça trombetas, mas simbólico: depois de 13 anos como criador agora eu participo de um evento de mídias. Há alguns anos isso talvez causasse celeuma em alguns pares, mas a real é que, repetindo o que eu disse no post anterior, cada vez mais é tudo a mesma coisa.
Houve surpresa, houve (pouca) inspiração e houve alguma decepção. A maior surpresa e inspiração veio da palestra da Barbara Kennington da WGSN, que trouxe as macrotendências para os próximos anos. Fiquei feliz duplamente: primeiro por ver várias referências & caminhos que (de forma atrapalhada e desformatada, diga-se) eu venho colocando aqui no blog, segundo porque há duas macrotendências fascinantes. Uma delas a WSGN chama da SLOW. Não é propriamente uma novidade os movimentos em busca de desaceleração, mas eu fico muito feliz de ver alguém colocar numa apresentação mainstream para grandes empresas de mídia do Brasil a palavra SLOW em letras garrafais. Quem sabe assim se desvaloriza um pouco a velocidade e começa-se a valorizar um pouco mais a lentidão e a construção paulatina. Me fez pensar porque eu me meti nessa coisa de Twitter essa semana, pra que essa instantaneidade afinal de contas? Hein? Me diz.
A outra tal macrotendência (meio relacionada a essa questão de desaceleração) ela chama de Connect e abre sob variadas formas de apropriação do espaço urbano abandonado e da ligação com as comunidades físicas. Em relação ao meu trabalho, penso na ênfase que precisa ser dada às ações de rua e aos cuidados que a indústria publicitária precisa tomar para não saturar também esse espaço. A rua é das pessoas e não das empresas.
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A outra boa palestra foi da mulher que substituiu o Pat Fallon - que não veio sei lá por quê e mandou um vídeo meio bizarro puxando o saco do Brasil pra se desculpar. Ela apresentou o conceito de trabalho que fez & vem fazendo da Fallon uma agência relevante desde os anos 80. Pra quem não sabe, foi a Fallon quem primeiro fez em grande escala esse lance de inverter a lógica de mídia de um grande anunciante ao investir grande parte da verba da BMW no ano 2000 em uma série de curta-metragens com grandes diretores, grandes orçamentos e nenhuma veiculação em mídia convencional. Foi tudo pra internet direto. Hoje isso é normal, mas na época fez o Festival de Cannes inventar uma categoria nova - Tittanium Lions - só pra premiar esse case.
O ponto alto da palestra dela pra mim foi quando ela contou como a Fallon implantou uma cultura criativa dentro da empresa, os passos práticos e não apenas a filosofia. Aí me caiu a ficha que quando se diz que é preciso implantar cultura criativa em todos os setores de uma agência, isso não PODE significar implantar a visão da criação. Cultura criativa e cultura de criação são coisas diferentes. Existe uma certa lei não escrita em muitas agências que toda a agência deve servir a criação, mas isso nunca foi tão improdutivo quanto nos tempos atuais.
Volto a esses dois assuntos com mais reflexão em breve.
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Fora isso, não vou nem perder meu tempo falando do debate que vi a respeito das transformações na área de mídia. Papo clichê, retrógrado e anti-produtivo. Deus-o-láive.
Até logo mais.