25 February 2008

Celular



Eu adoro esse comercial (especialmente desenhado pra trintões, vai dizer...) porque pra mim ele resume não só a chegada do 3G no Brasil, mas todo o encanto em torno dos celulares. Muito embora o meu não seja dos mais avançados (já cheguei a pensar em investir num iPhone ou num Blackberry, mas felizmente me recobrei a tempo), estou sempre de olho nesses aparelhinhos e mesmo os mais toscos me despertam um sentimento de magia quase infantil: como pode algo tão pequetito fazer tantas coisas?

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Os aspectos lo-fi dos celulares me encantam mais do que os aspectos mais avançados. Por exemplo, acho que já escrevi aqui: os celulares transformaram o mundo numa imensa cabine telefônica.


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É isso. As incríveis "coisas" que eu acho que o celular faz não são propriamente tocar música ou tirar fotos, mas tipo servir como inclusor (existe essa palavra?) digital e econômico de toda uma parcela da população brasileira. Hoje, grande parte dos 130 milhões de aparelhos no país estão nas mãos de profissionais liberais que se comunicavam de forma rudimentar com seus clientes. Por exemplo, o eletricista ou o pintor do seu bairro, na época do telefone fixo caro, precisava de um ponto de recados como uma ferragem. Você ia lá, deixava recado pro cara te procurar. Quando ele aparecesse por lá pra pegar os recados, iria até você.

Pouco mais de 80% desses celulares são pré-pagos, o que não deixa muita margem de dúvida desse papel que o celular está tendo na economia informal brasileira.

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Outra função incrível do celular é tontear publicitário.

O mundo das agências e dos departamentos de marketing está tentando desesperadamente compreender esse cenário. Mas a grande verdade é que poucas estão conseguindo entrar na dança com a velocidade necessária. E uma verdade maior ainda é que tem gente que não está nem aí, perdendo o trem sem nenhum constrangimento.

Oportunidades estão sendo perdidas, mas ainda bem: o quanto mais o marketing demorar a entrar no celular dos brasileiros, menos violento e mais pertinente talvez ele venha. Um dos ganhos que já tivemos com a lentidão do cresciemento marketing móvel foi a decisão da ANATEL de exigir que qualquer publicidade por celular demande OPT-IN. Ou seja, você precisa concordar com o início da comunicação entre uma empresa e você. Do contrário, os celulares sofreriam o que as caixas de email sofrem até hoje, que é a quantidade absurda de SPAM. E teríamos que usar filtros nos celulares, e toda aquela função.

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No meio disso tudo, pequenas empresas de conteúdo e tecnologia para marketing móvel estão ganhando espaço. Nem sempre por seu brilhantismo, mais pelo pioneirismo. Há alguns cases bastante interessantes (como o já bastante falado lançamento do Fiat Idea Adventure, que permitia às pessoas montarem uma versão de um comercial no cinema por SMS), mas eles não ganham muita repercussão no mercado publicitário - ainda zonzo, preocupado em entender o que está acontecendo e também não muito afeito a ações que atingem um número reduzido de pessoas.

Essa é outra característica dos celulares: não faz sentido dar tiro de canhão como se faz na TV. O trabalho é sempre em cima de conteúdo e comunidades. Duas áreas que as estruturas tradicionais de publicidade ainda patinam pra sacar DE FACTO.

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Enquanto isso, quem gosta de dinheiro GROSSO (em vários aspectos) está fazendo pequenas fortunas com coisas como os leilões reversos por SMS (que vem fazendo a alegria de operadoras, a Rede TV! e os seus parceiros tecnológicos na empreitada) ou marketing de pirâmide por celular.

Mas, honestamente: esse tipo de coisa só me interessa por sua natureza pitoresca.

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E o iPhone? Tem dois colegas aqui na agência que tem. É uma lindeza. Incrível mesmo. Mas apesar de tudo, acho que seu grande predicado é puxar pra cima os outros celulares. Que nem painel de carro caro, sabe? O painel do meu Palio é igual ao painel do Fiat Stilo. Única diferença é que o Stilo é recheado de coisas e o do Palio é cheio de locais de plástico onde deveria haver coisas. Eu não tenho as coisas, mas tenho um painel bonitinho.

Que venham painéis bonitinhos para todos nós.