11 March 2008

Free por Chris Anderson por Marcelo Bôscoli e por Seth Godin por Conector


“Estou de saco cheio do Chris Anderson. O que ele está descobrindo? O mecenato? O mecenato tem um trilhão de anos. Nada é novo nessa visão de internet. O que a gente descobriu agora?

Que as pessoas gostam de ganhar coisas de graça, que os artistas gostam de dinheiro e que existe o mecenato. O que viabilizou o Bach? Foi a igreja […] Sempre tem alguém que paga a conta”.

Vi a frase do Marcelo Bôscoli, presidente da Trama, no Tiago Dória. Comentei lá no blog do Dória e replico aqui: entendo quem se entedia com os rótulos do Anderson, mas eu acho que o que a visão de Anderson coloca (formatada de um jeito interessante, ainda que seu pensamento não seja original) é o fato de que estamos vivendo uma era na qual o mecenato é possível de ser pulverizado entre milhares de pessoas conectadas em computadores. Se a Igreja viabilizou Bach, são os membros de uma comunidade digital que acabam viabilizando-se mutuamente, mesmo que não diretamente ou financeiramente, como eu coloquei no caso do Conector.

Vamos a exemplos mais claros: a Mallu Magalhães, por exemplo, está sendo mecenatada (acho que inventei essa também...) pelas milhares de visitas diárias no seu MySpace, o que dá suporte numérico ao hype criado por jornalistas especializados, produtores e interessados em geral. Isso também é viabilização. Foi assim, de certa forma, que se formou a base de fãs do Cansei de Ser Sexy. Se o assunto é arrumar grana, isso também é uma forma de começar a gerá-la. E é uma forma nova.

O Seth Godin, por sua vez, comenta em seu blog uma crítica ao fato dele ter pedido um depósito para seu futuro estagiário de verão (que será retornado ao fim do estágio). A justificativa:

"Quando você traz dinheiro pra equação, tudo muda (pergunte ao governador de Nova Iorque). Chris Anderson está certo quando ele escreve sobre o poder do grátis no marketing. Isso aumenta dramaticamente a experimentação e oferece a você o direito de atenção, ao menos por algum tempo. Eu acho que o Google é a exceção que prova a regra: as marcas mais poderosas são aquelas que ganham o direito de fazer uma transação (com seu público)."

Quem sou eu pra questionar o Seth Godin, mas escrevi um email pra ele dizendo o seguinte:

"Não acho que comprometimento esteja sempre ligado a dinheiro. Às vezes, ele pode vir de um sentimento de comunidade. A música 'grátis' que as pessoas consomem são diferente dos salgadinhos grátis da palestra do TED que você comentou."

Em seu post de hoje, Seth contou que no seminário TED Talks, os salgadinhos grátis acabavam sendo desprezados, com muitos pacotes pela metade jogados no chão do auditório.

"Os fãs de música são um ótimo laboratório para ver como certas coisas funcionam, tenho certeza de não estar falando nada de novo para você. O fato de hoje podermos encontrar tudo que quiserem de música de graça não fez a música menos importante para os apaixonados por ela. Na verdade, os apaixonados ficaram ainda mais apaixonados. O que está acontecendo na indústria musical é que uma das partes que eram incluídas no compromisso está mudando de "gravadoras" para outro tipo de players (como empresas de shows ou os artistas diretamente) porque as gravadoras não compreenderam a importância do lado não-business da música: paixão.

As pessoas pras quais música não é nada demais, por sua vez, ainda se relacionam com música da mesma forma que antes. Não acho que eles estejam gastando menos porque eles são exatamente o tipo de pessoa que precisa de ajuda pra consumir música."

Meu ponto aqui é: as pessoas que não são apaixonadas por música, se não pagarem por shows ou edições especiais, vão acabar pagando por serviços que facilitem escolher o que comprar.

"Então, Seth, eu concordo com você que as marcas mais poderosas são aquelas que ganham o direito de fazer uma transação com seu público, mas a moeda dessa transação nem sempre é dinheiro."

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Gente, um esclarecimento: não estou construindo aqui um libelo anti-monetarista. Só corrigindo o foco do que eu acho que seja a base de alguns negócios baseados no conceito "Free".