10 March 2008

Parte 2 do Free por Chris Anderson por Contector

Recentemente a NET iniciou um agressivo plano de expansão da sua base de clientes oferecendo combos mais baratos para a classe C, o recorte demográfico que se tornou a menina dos olhos da economia mundial (mundial se considerarmos que os mercados emergentes são a classe C da globalização).

Se você não acompanha o noticiário de marketing e economia, eu vou dar uma palhinha: está todo mundo de olho na “classe C”, essas galera que ganhou a possibilidade de COMPRAR MUITO através da imensa oferta de crédito que temos no país devido à estabilização econômica iniciada pelo FHC e perpetuada pelo Lula (a que custo, num dia veremos...). É o fato do país ter se tornando atraente para os investidores estrangeiros (a BOVESPA vive um verdadeiro frenesi, investir em ações é até pop) que permitiu que muito mais gente comprasse geladeiras modernas, que o DVD chegasse a custar menos de cem reais, que a venda de computadores no ano passado superasse a de televisão, que a base de internautas cresça em consideráveis saltos anuais, enfim, que a casa de periferia fosse transformada em um depósito de eletrodomésticos novinhos em folha, bem como de carnês de pagamento parcelado. É assim: no tampo a TV de 28 polegadas com DVD, na gaveta o carnê.

Agora você adicione nessa equação um combo da NET com TV à cabo (por enquanto, só os canais abertos no plano mais básico), internet banda larga e telefone. De posse de banda larga e do computador comprado no ano passado com o subsídio do PAC, por que essa imensa nova base de clientes da NET, impulsionada por um hábito que já existe no país, vai assinar o pacote mais caro se pode baixar filmes, seriados e música na internet?

Entenderam? Esse vai ser o golpe final na indústria de conteúdo pago. Milhões de novos consumidores loucos para se divertir e, na medida do possível, pagar o mínimo possível por isso. Vou repetir: todos os seriados, filmes e músicas DO MUNDO, disponíveis em milhões de novos lares, DE GRAÇA através de programas de compartilhamento de arquivos, de uma banda larga mais democratizada. Tudo na mão de milhões e milhões de garotos sem grandes apegos à forma antiga de consumir conteúdo.

Ok, qual é a novidade aí? É que até então estávamos falando de um grupo social restrito que tinha acesso à banda larga. Agora estamos falando de muito, mas muito mais gente. Se isso não vai ter um impacto profundo (ainda que lento) no jeito como se consome informação e entretenimento, eu mudo meu nome pra José Guga de Arimatéia.

Qual é a saída para quem gera conteúdo? De novo aqui, caímos na velha discussão de sempre e eu tenho uma resposta pronta para isso: vão proliferar os modelos de remuneração. Cada vez mais você vai receber de jeitos esquisitos para gerar conteúdo. E vou dar como exemplo o meu blog.

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O conteúdo do Conector é relevante para um certo número de pessoas. Tenho em média 100 visitantes únicas por dia que vêm aqui se alimentar de graça. Eu não recebo nada para fazer uma espécie curadoria de conteúdo e trazer alguma reflexão. Passei minha vida lendo, ouvindo música, indo ao cinema, pensando, estudando, trabalhando, pra agora entregar alguns insights e dicas de graça pra vocês. Não só eu, gente até mais consistente, relevante e profissional do que eu faz a memsa coisa.

Bem, não é totalmente de graça, sabia?

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Se você não me paga pra ler isso, o fato de você me dar atenção faz com que alguém me pague indiretamente por isso.

Primeiro: os aumentos e promoções que eu recebi no meu dayjob nos últimos anos foram todos relacionados em algum nível à atividade que mantenho no blog, seja o raciocinar escrevendo, seja na pesquisa para postar, seja no networking formado ao me relacionar com leitores e outros blogueiros.

Segundo: a melhor proposta de emprego que eu recebi na vida (não cabe aqui explicar por que não aceitei...) aconteceu porque a pessoa que me chamou leu o blog. Não foi por causa do meu portfolio com anúncios, comerciais e spots de rádio. Só aí todo o tempo investido no blog já se pagou. Esse blog (e suas atividades relacionadas) tem sido, sem querer, meu melhor portfolio

E por que diabos eu não entro num processo de monetização do blog? Por que não coloco AdWords nele?

Primeiro: acho mais divertido trabalhar dessa forma. O descomprometimento com um retorno financeiro direto mantém um certo frescor no processo de blogar. Eu não blogo e nunca bloguei por dinheiro e as duas justificativas acima são conseqüência de uma vontade mais premente de simplesmente escrever.

Segundo: talvez eu pudesse fazer alguns reais (centavos?) a mais no mês com AdWords, mas eu acho que geralmente as páginas ficam muito feias com eles e o mundo já está cheio demais de anúncios. Gosto da idéia de que o Conector seja, dessa forma, “ad-free”. Acho saudável. Posso até mudar de idéia no futuro, mas hoje gosto que seja assim.

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Até porque, digamos que eu “monetizasse” o blog e que (hipótese remota) eu desse um jeito de ganhar dinheiro diretamente dele... tenho certeza que em poucos meses eu arrumaria um outro blog ou projeto parecido que eu fizesse “de graça”.

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Porque não adianta, me desculpem a breguice: ele é necessário, eu gosto dele, eu preciso dele, ele fornece subsídios, mas as melhores coisas da vida não envolvem ele - o dinheiro.