15 April 2008

Menos é menos (e tudo bem!!!)



Nota do Blue Bus hoje dá que os usuários do Flickr estão revoltados com a inclusão de postagem de vídeo no querido lar de suas fotos (aqui tem também o post da Wired). O ponto central da notícia é a contradição 2.0: um empreendimento que se baseia na colaboração e na via de mão dupla não ter trocado uma idéia com seus usuários antes de dar um passo tão radical.

Mas não era isso que eu queria sublinhar. Na verdade a tal nota me lembrou uma entrevista com o Adam Seif (em espalhol), um dos fundadores do Fotolog (e também do pré-orkut six degrees). Criticado sobre o design tosco de sua ferramenta, ele devolve:

"É verdade, mas não é um acidente. Queremos dar mais atenção às fotos de nossos usuários do que nosso site. Os protagonistas são os usuários e sempre procuramos manter um design bastante simples e não muito cool. Dito isso, estamos trabalhando para melhorá-lo. Estamos conversando com os membros da comunidade e eles nos fazem sugestões. Certamente precisamos chamar um designer melhor do que eu. E vamos incorporar algumas funcionalidade para personalizar as páginas, mas também não queremos ser muito abertos como está fazendo o Facebook, Myspace ou Google, que estão deixando os usuários loucos".



Ou seja: pra que diabos o Flickr vai enfiar vídeos numa comunidade tão bem sucedida tendo por base a postagem de fotos? Ainda que não seja o ápice da simplicidade, o Flickr ainda consegue a proeza de colocar fotógrafos, artistas plásticos e ilustradores ao lado de gente como a gente que simplesmente cria seus três albinhos pra compartilhar fotos com o pessoal. Ao começar com o empilhamento de ferramentas e aplicativos, alé de perder seu ar singelo, corre o risco de perder o respeito dos usuários que realmente sustentam a naba.

***

Não creio que poluição visual ou de aplicativos seja problema para a grande maioria dos usuários de redes sociais. Nunca vi alguém com menos de 30 anos reclamando de excesso de informação. Mas isso não significa que quem está em posições estratégicas tenha que rezar conforme a cartilha do desespero. Danger danger: nunca a síndrome da festa do Campari foi tão forte.




A síndrome da festa do Campari é o seguinte (vi numa coluna do João Paulo Cuenca na TPM, se não me engano). Ele dizia que todo homem casado acha que em algum lugar, nesse exato momento, está acontecendo uma festa tipo aquelas de anúncio de Campari, com minas maravilhosas à beira de uma piscina, drinks cítricos e a promessa do puro prazer. Aí o cara se separa e começa a procurar essa festa do Campari. Descobre que ela não existe, não ao menos com a freqüência, intensidade ou tamanha riqueza de detalhes deliciosos que parecia ter.

***

No mundo em que eu trabalho, está acontecendo a mesma coisa. A possibilidade da festa do Campari está enlouquecendo algumas pessoas que trabalham com publicidade e marketing - e essas pessoas estão me enlouquecendo sem necessidade. Meu, vou te contar...



Num artigo de 2001 (dois mil e um!!!!), o Douglas Rushkoff defendeu uma questão interessante:
"Como os adolescente podem hoje desenvolver sua própria cultura quando cada nova idéia é cooptada e vendida de volta antes de ter a chance de amadurecer? (...) Os adultos não tem nada melhor a oferecer pra essas pessoas do que um espelho? Se quem manda na indústria do design não está na posição de definir tendências para o século 21, quem está? Não olhe pros garoos, olhe pra você mesmo."

Ok, talvez o texto do Rushkoff soe um tanto quanto anacrônico, ainda mais falando em coisas como "século 21". Mas se você fizer a costura com a entrevista do Adam Seif, vai se dar conta que muita gente grande está abrindo mão de tomar decisões por medo de enfrentar pesquisas e artigos que dizem o quanto é preciso ouvir os consumidores, os usuários, os fãs, a garotada ou os trendsetters.

***

Tudo bem, subterfúgio louvável e, muitas vezes, eficiente. Mas que também pode servir (e vem servindo) como uma glamourosa rede de proteção para mentes medrosas e incapazes de levar adiante, defender e embasar suas próprias opiniões - mesmo que anacrônicas - sobre pra onde a comunicação pode ir.