16 June 2008

Mais um dia, mais umas bravatas




O dia hoje não podia começa melhor: logo que entrei no Palácio dos Festivais, encontrei meu colega e diretor de arte Diego Wortman com um sorriso no rosto porque o painel AIDS pra Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul entrou no shortlist de outdoor. Criada pelo Diego e pelo Marcelo Rosa e viabilizado pela Área de Conexões junto com a Sinergy, a idéia é absurdamente simples: o público é convidado a levar camisinhas que formam a palavra AIDS no painel. Levando as camisinhas, o AIDS vai desaparecendo. Beleza?

Além da simplicidade, outro predicado dessa ação foi ter sido criada para o Governo do Estado a partir de um briefing real e não como um semi-fantasma para uma entidade social, como é comum no meio publicitário.


Se rolar um leão para a Escala, vai ser um aproveitamento de 100%, já que foi a única peça inscrita pela agência.

Não rolou, mas beleza! O painel ainda é finalista no New York Festival!

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Eu, por outro lado, tive um aproveitamento de 50% nos workshops e seminários hoje. Dois valeram a pena, mas outros dois foram um tanto quanto... normais...




Vamos nos que valeram a pena primeiro.

A Ogilvy fechou a tarde com a palestra Dada, Data, Alpha, Beta, cujo título remete mais a música para crianças extraterrestres do que a qualquer outra coisa. Com uma apresentação elegante, consistente e didática, Jan Leth (Vice Chairman Digital, os caras tem isso...) e Jean Phillip Marcheau (Chief Digital Officer da Ogilvy USA, ganha menos) estabeleceram o código pelo qual a Ogilvy entende e explica o mundo digital. Tudo que a gente já sabe, mas - a exemplo do material da Go Viral - empacotado com uma visão particular e bem interessante. Eu sempre gostei de rótulos e acho que é um talento construí-los com consistência.

Resumindo: Dada (sim, do Dadaísmo) é o cluster no qual eles colocam toda a história de mashup, colaboração, lateral thinking, essas coisas. Data é como eles chamaram a ascenção dos dados que saíram dos bastidores para se tornarem estrelas de projetos como We Feel Fine e as tão comuns tag clouds. Alpha é manjadaço, a já velha história de cooptar influenciadores para que eles disseminem conceitos. E Beta, também nada de novo, é o modus operandi corrente de 9 entre 10 empresas inovadoras: faz um rascunho e bota pra funcionar ainda semi-pronto na frente de todo mundo pra ver no que dá.


A versão beta, apresentada numa universidade americana - achei no Slideshare



Tudo já sabido não? Pois é, mas quando você é uma rede global de agências, precisa construir esse tipo de código para passar adiante conceitos para senhores nada acostumados com ese tipo de coisa e que definem orçamentos milionários de comunicação. Bem, quando você não é uma rede global de agências também, mas isso é outra história.

O momento que realmente mexeu comigo foi quando o Jean Phillip falou da importância de dar atenção aos dados em relação aos conteúdos das campanhas.





Primeiro ele disse que "dynamic data drives storytelling": o caso do We Feel Fine é perfeito para definir isso (veja a entrevista que eu fiz com o Jonathan Harris). Um site que busca frases em blogs do mundo inteiro contendo os termos "I feel" and "I am feeling" cuja dinâmica de interação - e portanto a narrativa - é totalmente conduzida pela forma como você escolhe filtrar os dados.

Eu acho isso lindo, sério. Dynamic storytelling. Quantas agências estão preparadas para lidar com dynamic storytelling? Que profissionais estão preparados pra isso? Comecei a pensar no que eu tenho que aprender para lidar com esse tipo de coisa, uma vez que eu não jogo videogame (porque vicia muito fácil).



baixa a versão em pdf aqui

E já que estamos na questão dos dados, posso passar para o workshop da Wunderman, os outros 25% que valeram a pena hoje. A primeira parte do workshop How To Think Digital (que na verdade era uma palestra porque, como em todos os outros, praticamente não há interação) foi dedicada aos 21 princípios da comunicação digital. Não vou listar todos aqui (tem aí no livro), mas pego o gancho dos dados porque o princípio de número seis dizia: Dataphobe? Get over it.

Ou seja, pó pará com essa frescura de fobia de dados e mergulhar nesse mundo. Porque num paradigma de comunicação onde há diálogo constante em vez de um monólogo que se encerra quando você vira a página do anúncio, também há feedback constante e esse feedback precisa ser processado e devolvido sob a forma de uma resposta mais rica - como quando conversamos com alguém.

Vamos deixar uma coisa clara: não se trata de conversar através de estatísticas. Conversas mediados por dados pode ser inspirador e poético, como, de novo, provam experiências tipo We Feel Fine.

(Pensando agora, vejo que no mundo antes exclusivamente offline, esse diálogo também acontecia, mas de forma muito mais lenta: o consumidor lia o anúncio e respondia sob a forma de consumo - ou abstenção de consumo - ainda registrando sua percepção de marca através de pesquisas. A partir daí, a marca respondia tentando corrigir ou enriquecer a experiência de comunicação anterior. Isso também é diálogo, mas é demorado pra burro.)






O lance da Wunderman, na real, era detonar sem dó nem piedade a publicidade em mídia de massa. As primeiras lâminas enfatizavam o desperdício de dinheiro que é um comercial de produtos segmentados na televisão quando há tanta dispersão de target. O cara foi bastante convicente, mas não parava de me vir à mente o fato de que isso é uma realidade bastante européia e americana, onde os consumidores tem (por questão de maturidade mercadológica) atitudes muito mais segmentadas como um todo. O Brasil, parece ter o mainstream entranhado na sua cultura: brasileiro gosta de ser mainstream, gosta de torcer junto na cpa, gosta de fazer parte de grandes grupos, assistir ao final da novela, aquela coisa.

Ao mesmo tempo, a economia brasileira está crescendo de tal forma que a segmentação é inevitável: mais opções, mais dinhero circulando, maior possibilidade das pessoas se habituarem (lentamente) a consumir em nichos.

Mas será que o Brasil vai perder sua vocação mainstream? Ou vai existir alguma coisa tipo segmentação mainstream?

Não sei o que eu quis dizer com isso. Mas eu disse.

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Eu sei que não estou chegando a lugar algum, mas espera que no final do festival eu vou consolidar isso tudo em algumas linhas que estou definindo.



E agora, os outros 50% meio decepcionantes.

O primeiro evento da manhã prometia: três agências de mobile marketing da escandinávia se uniram para formar uma só companhia chamada More Mobile Relations. Só que a apresentação, de novo, foi mais 0111406 do que propriamente uma visão conceitual a respeito do ambiente móvel. Não por incompetência dos caras, mas mais reflexo da imaturidade desse mercado, ainda muito recente. Grande parte das apresentações desse segmento ainda precisam contar seus princípios básicos de funcionamento (é sempre sublinhada a necessidade de se trabalhar em cima de permissão do consumidor) e provar sua crescente aceitação, não sobrando muito espaço para vôos mais inspiradores.

***

Na tarde, meio que perdi meu tempo vendo o workshop do MySpace. De novo, foi interessante pra ver como eles se vendem, mas trouxeram quase nada de novidade e, pelo menos até o ponto em que eu fiquei, não houve qualquer interação dinâmica. O ponto alto da história foi ter ganho uma pen drive.

Mas era de 1GB.

Boa noite/bom dia.