16 December 2005

Homens

"Em busca da audiência masculina, a TV americana apresenta caras durões

Ambigüidade moral molda caráter dos heróis da atualidade

Houve um momento de cortar o coração, no final do último episódio na temporada passada da série da ABC "Lost", quando um personagem chamado Michael tenta encontrar o filho dele, que foi seqüestrado. Michael ama de verdade seu filho; como os outros personagens de "Lost", os dois estão isolados numa ilha tropical, depois de sobreviverem a um acidente aéreo.Quando fica sabendo da missão desesperada de Michael, Sawyer --um narcisista durão e beberrão que no passado matou um inocente-- tem uma reação que você não iria considerar simpática. "Aqui cada um luta por si", rosna Sawyer.Se fosse há algum tempo não muito distante, a insensibilidade de Sawyer faria dele um vilão, mas em "Lost" ele é um personagem simpático, um homem cuja tendência a despejar verdades darwinianas sobre a gentileza não apenas faz a trama seguir adiante como ressalta a própria idéia presente na série, de que, no caos social do mundo moderno, o único reflexo sensível é o interesse em causa própria.A Spike TV descobriu que os homens reagem positivamente não apenas a protagonistas corajosos e competentes, mas também a um tipo de personagem que manifesta tendências anti-sociais marcantes --tipos como o dr. Gregory House, médico viciado em analgésicos Vicodin na série "House", da Fox; como Michael Scofield em "Prison Break", que vai à luta para ajudar o irmão a fugir da cadeia; e como Vic Mackey, interpretado por Michael Chiklis em "The Shield", um policial durão que não hesita em espancar um suspeito sem piedade. Tony Soprano é o patrono dessa turma; e como Tony, considerados os limites de seus respectivos programas, todos eles são "os caras do bem".O código implícito desses personagens, segundo Brent Hoff, 36 anos, um fã de "Lost", é: "A vida é dura. Homem que é homem precisa fazer o que deve fazer, e se algumas pessoas vierem a morrer nesse processo, que seja assim.""Nós podemos nos identificar com eles", diz Hoff, um escritor de São Francisco. "Se em `Lost' você prestar atenção no Sawyer, que é um cara basicamente do bem mesmo quando faz coisas ruins, haverá menos motivos para se sentir culpado sobre si mesmo."
The New York Times - 15.12.2005"