Continuando...
Por que as empresas resolveram meter o bedelho na cultura? É óbvio: porque a cada dia que passa o consumidor fica mais esperto com a hoje chamada publicidade convencional. A quantidade de concorrentes disputando mercado junto da quantidade de publicidade necessária para superar os concorrentes na busca pela atenção do consumidor gerou um processo de natural saturação: já somos, enquanto consumidores, totalmente acostumados às mensagens publicitárias a ponto delas terem que começar a vir disfarçadas de outra coisa.
Antigamente isso era chamado de patrocínio: uma marca pagava para colocar sua marca ao lado de algum evento ou obra cultural. Mas hoje a coisa está mais complexa: as próprias empresas, através de seus departamentos de marketing e agências de publicidade, têm participação ativa desde o início, relacionando-se diretamente com curadores, envolvendo-se de fato com o evento/obra.
Isso traz conseqüências boas e ruins para todos.
Para a publicidade tudo é festa: encontramos um novo jeito de furar o bloqueio do consumidor à publicidade convencional que já se tornou paisagem. Publicidade é, por definição, invasiva: o sujeito nunca vai comprar uma revista para ver anúncios – a menos que a própria revista ou o seu conteúdo sejam “anúncios” ou que os anúncios sejam muito divertidos.
Para o público, é a oportunidade de ter contato com artistas e obras que nunca viriam ao Brasil sem patrocínio.
É óbvio que isso gera uma dependência pesada entre esses artistas/obras e as empresas. Nós dependemos totalmente do que esteja na moda para poder ver as coisas vindo para cá. Ou seja, os interesses comerciais prevalecem.
Pra tentar fechar essa bagaça toda: se você parar pra pensar as coisas são bem mais complicadas do que parecem.
Eu comecei esse texto falando de consumismo e como publicitário estou sempre pensando no assunto não apenas do ponto de vista comercial, mas o consumismo como um fenômeno dos nossos tempos, como expressão, como meio de vida – e ele é isso também por mais “errado” que muitas pessoas achem isso.
Se comprar é parte do espírito do nosso tempo, talvez seja melhor aprendermos a aceitar isso, aceitar o fato de que, queiramos ou não, estamos todos imersos em um complexo processo comercial por uma série de motivos que não tenho competência de explanar.
Aceitação, como reza o clichê do alcoolismo, é o primeiro passo para a compreensão, para a reflexão e, quem sabe, para o crescimento.
Eu acredito que estamos todos envolvidos em processos de compra, factuais ou metafóricos. Estamos freqüentemente nos vendendo para os outros, tentando seduzir o outro na busca por atenção & aceitação.
A redução de escala desse grande processo para a sua relação de uma pessoa com as coisas e pessoas que as cercam são, na minha opinião, o melhor caminho para compreender e transcender o consumismo em larga escala.
Eu não acredito em revoluções, mas em trabalho de formiguinha, diga-se.
E novamente eu me perdi no raciocínio, mais além eu continuo.