27 October 2006

Tetris



Achei uma peça de Tetris na entrada do meu prédio.


***

Aí me lembrei que uma amiga minha me contou que o russo que criou o Tetris não ganhou nada do que o investidor do jogo ganhou. Tetris é um jogo incrível, pela simplicidade e pela capacidade absurda de se manter na nossa mente horas depois de tu parar de jogar. Acho que é uma das melhores maneiras de compreender como a mente é permeável: se ridículas pecinhas básicas se encaixando já ficam grudadas na nossa mente por pura inércia, tu imagina o que não fazem emoções, diálogos, coisas emocionais que acontecem. Só imagina.

Na palestra de quarta, Jigme Khyentse Rinpoche deu um exemplo maravilhosamente simples a respeito disso. Ele falou que consideramos normal quando alguém nos xinga e ficamos o dia inteiro repetindo aquele xingamento na nossa cabeça. Sabe? Tipo alguém te diz "Imbecil" ou "Incompetente" ou "Mongol" e tu fica repetindo aquilo na cabeça: "Incompetente? Não acredito." Vai almoçar e fica lá "Incompetente... ele falou incompetende... desgraçado". De tarde continua "Incompetente..."

O xingão vindo da outra pessoa durou apenas quatro segundos mas a nossa própria mente continua nos xingando durante o dia todo. A nossa própria mente! Bom, essa parte é minha interpretação. O que ele disse e que eu achei incrível é que isso é como se a gente pegasse um gravador, gravasse o xingamento e passasse o dia inteiro dando REW e PLAY, ouvindo repetidamente o xingamento. É mais ou menos o que acontece com a nossa mente. O gravador tá dentro.

O mais curioso é que nós temos liberdade. Mas não temos o hábito de usar e poucos tem os meios para treinar.

***

Voltando ao Tetris, eu estava pesquisando na Wikipedia e achei essa frase incrível, que é praticamente um argumento de filme de ficção científica.

"By 1988, the Soviet government began to market the rights to Tetris through an organization called Elektronorgtechnica, or "Elorg" for short. By this time Elorg had still seen no money from Andromeda, and yet Andromeda was licensing and sub-licensing rights that they themselves did not even have."

Não tive saco de ler tudo, mas tem um parágrafo metafísico que pergunta: "Is it possible to play forever?"

E o fato de alguém já ter estudado isso numa tese me faz pensar que nem sempre quando eu acho que estou perdendo tempo na minha vida eu estou realmente perdendo...

"The question Would it be possible to play forever? was first encountered in a thesis by John Brzustowski in 1988 and more recently investigated in published articles by Walter Kosters, a player is inevitably doomed to lose."

Outra coisa interessante é que existe um termo para essa coisa de ficar com as pecinhas montando na cabeça: chama Tetris Effect.

"The Tetris effect is the ability of any activity to which people devote sufficient time and attention to begin to dominate their thoughts, mental images, and dreams."

Meditação de Tetris. Se levasse a algum lugar, seria ótimo.